São Paulo, domingo, 17 de novembro de 1996
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Carlos Vereza

ELIO GASPARI

(55 anos, o senador Roberto Caxias do Rei do Gado, com 37 anos de profissão, mais de 20 novelas.)
Como o senhor vai resolver o problema do Senador, um sujeito sério e superlativamente chato?
Ele não é chato. Ele é sozinho. É sozinho em casa e na política porque sua conduta também é solitária. Vive num apartamento pequeno, sem luxo, vai ao Congresso a pé, não tem momentos de cinismo. Não está para brincadeira. É um solitário para a nossa maneira de perceber a política. Na maioria dos países os parlamentares vão a pé ou de metrô para o Congresso. Quem acha ele chato é essa nossa elite, a mais cruel do mundo. O Brasil passou por um processo de sucateamento da opinião pública. Foi uma coisa planejada e realizada, que produziu a geração do vácuo, para quem a política é coisa chata. Ele pode parecer um ET, mas isso sucede porque fala a sério.
Quais seriam os políticos que, a seu ver, se pareceram com Caxias?
Você teve o Ulysses Guimarães, o Luis Carlos Prestes. Isso na esquerda. Na direita você vai achar o Otávio Gouvea de Bulhões, que foi ministro da Fazenda na ditadura, ou o Juarez Távora, tenente de 30 e também ministro da ditadura. É significativo que a falta de políticos a serviço de idéias faça com que seja tão discutido um personagem de novela no papel de político honesto (o primeiro que ví em minha carreira). A TV Globo recebe muitas cartas de telespectadores pedindo que se coloquem na agenda do senador temas que consideram importantes, questões do funcionalismo, da terra, do desemprego. Para o povo, Caxias não é chato, é um veículo de reivindicação. A política não é uma coisa chata, é coisa séria.
O senador Roberto Caxias vai ficar junto com a Chiquita, sua empregada?
Isso é irrelevante. O senador é uma pessoa só. Afora a filha, Chiquita, uma mulher humilde, é quem melhor intui o seu universo. Eu não sei se eles vão ficar juntos, mas sei que se isso acontecer, o Benedito Rui Barbosa, autor da novela, não vai criar uma dupla personalidade para o senador, transformando-o num moralista quando de pé e num cafajeste quando deitado. O senador Roberto Caxias ainda vai incomodar muito.

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