São Paulo, domingo, 17 de novembro de 1996
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Vivaldices variadas

JANIO DE FREITAS

A disputa pelo Ministério da Saúde está chegando pouco ao noticiário, mas não porque os "lobbies" estejam menos ativos ou por falta de lances noticiáveis, entre o engraçado e o patético.
Horas antes da saída formal de Adib Jatene, por exemplo, o deputado Inocêncio Oliveira foi a Fernando Henrique. A meio de outros assuntos, e como quem não quer nada, jogou argumentos políticos que recomendavam a permanência de Jatene. Fernando Henrique embromou e, como de praxe, não definiu. Mas, ao sair, o vivaldo Inocêncio foi dizer aos repórteres que inexistia demissão de Jatene. Era a velha jogada de criar um constrangimento para Fernando Henrique, depois de dar a impressão de tê-lo ouvido negar a demissão.
Já no dia seguinte à saída de Jatene, Inocêncio volta a tratar do assunto com Fernando Henrique, para defender a idéia que sustenta ainda: a nomeação do substituto só será conveniente em fevereiro, para não acrescentar mais uma negociação a tantas outras necessárias e já em curso no Congresso.
Tradução: dono de clínica e, por isso, crítico de Jatene no ministério, Inocêncio Oliveira tentou mantê-lo e, depois, vem tentando adiar a substituição, não pelos riscos de que se criem desagrados embaraçantes na área política, mas por ser ele próprio pretendente ao ministério. Também pretendente, no entanto, à presidência da Câmara. Cuja eleição só se dará em fevereiro.
Já a bancada do PSDB indica para o lugar de Jatene um dos seus integrantes, o deputado Carlos Mosconi. Médico com passagem pelo serviço público, deixou, como presidente do Inamps, um feito inigualável até mesmo na história grotesca da Previdência. Foi a designação, para coordenadora do serviço de cancerologia do instituto, de ninguém mais nem menos do que a recepcionista do seu consultório particular.
Considerada a quantidade de nomeações possíveis no Ministério da Saúde, os peessedebistas fizeram uma indicação, vê-se, muito apropriada.
O fundo da derrota
Os significados da derrota de Sérgio Cabral Filho vão muito além da sua derrota pessoal, da derrota do governador Marcello Alencar e de mais uma na enxurrada de derrotas do PSDB.
Não foi por avaliação de possibilidades eleitorais que Marcello Alencar repeliu a composição ofertada por Cesar Maia e, em seguida, dinamitou os pré-candidatos naturais do PSDB. Qualquer destas soluções situaria no plano político-partidário a escolha do seu candidato à sua própria sucessão. E este candidato, além de não ser do círculo político-partidário, já está escolhido há tempos, um tanto para preservação de um esquema exclusivo, outro tanto por necessidade premente.
O apetite individualista de Sérgio Cabral Filho fez dele a figura ideal para o compromisso de assegurar, na presunção de sua vitória, a soma dos governos estadual e municipal na imposição de Marco Aurélio Alencar como candidato à sucessão do pai. Haveria domínio absoluto, então, dos Alencar sobre o PSDB fluminense, inexistência de investigações da atual administração manipulada pelo filho em nome do pai e, necessidade mesmo, a continuidade na posição de maior influência no Estado. Afinal de contas, Marco Aurélio Alencar é réu de processo criminal com graves acusações, decorrentes da maneira tão à vontade com que procedeu ao comandar o Banerj.
Incógnita
As "fontes" da Presidência passam a jornalistas, com tanta precisão, os nomes de políticos a quem o prefeito Paulo Maluf tem telefonado, não faltando nem o relato das conversas, que, das duas, uma: ou há uma bola de cristal fantástica no Planalto ou nos telefones de Maluf há mais do que linhas telefônicas.

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