São Paulo, domingo, 17 de novembro de 1996
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Suplentes ocupam 15% das cadeiras

Maioria não possui representatividade política

RAQUEL ULHÔA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O Senado Federal é o paraíso dos suplentes. Das 81 cadeiras (três para cada Estado e o Distrito Federal), 11 estão sendo ocupadas por senadores que chegaram até ali sem precisar disputar nem sequer um voto.
Eles representam quase 15% do total dos senadores e seu voto no plenário vale tanto quanto o de Romeu Tuma (PSL-SP), por exemplo, que foi escolhido senador por mais de 4 milhões de eleitores paulistas.
Desses 11 que chegaram ao Senado como suplentes, 6 acabaram tornando-se donos das cadeiras até o fim dos mandatos, com o afastamento definitivo dos titulares.
É o caso do ex-pedreiro e hoje pequeno empresário da construção civil, João França (PMDB-RR). Ele era suplente de Hélio Campos (PMN e depois PDS de Roraima), que morreu em 91, um mês após ser empossado senador.
A maioria dos suplentes não tem representatividade política. A vaga do senador Esperidião Amin (PPB-SC), eleito com 980 mil votos, está sendo ocupada pela pedagoga Sandra Guidi, desconhecida dos colegas. Ela era consultora de Educação da CRE (Coordenadoria Regional de Educação) do seu Estado.
Amin entrou de licença para participar da campanha da mulher, deputada Ângela Amin (PPB-SC), para a Prefeitura de Florianópolis.
Membro da executiva do PTB de Minas Gerais, Regina Assumpção nunca havia ocupado cargo público antes de ganhar temporariamente uma cadeira no Senado, com a ida do senador titular, Arlindo Porto (PTB-MG), para o Ministério da Agricultura.
Parentes
O ex-senador Dinarte Mariz (Arena-RN) costumava dizer que só o Senado é melhor do que o céu, porque para chegar até o céu era preciso morrer. Para os suplentes, o Senado é ainda melhor do que para os demais parlamentares -nem eleição disputam para chegar lá.
O candidato a senador tem direito a escolher dois suplentes, para substituí-lo em caso de afastamento, definitivo ou temporário. Para fazer a escolha, três senadores -todos candidatos à presidência do Senado- deram o papel a parentes próximos.
O líder do PMDB, Jader Barbalho (PA), escolheu o pai, Laércio Wilson Barbalho. Iris Rezende (PMDB-GO) deu a suplência ao irmão Otoniel Machado Carneiro. E Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA) preferiu o filho, Antonio Carlos de Magalhães Júnior.
Humberto Lucena (PMDB-PB) deu a vaga de segundo suplente para Renato Cunha Lima, irmão do amigo e também senador, Ronaldo Cunha Lima (PMDB-PB).
Cunha Lima, o titular, pediu licença para ajudar a campanha do filho, deputado Cássio Cunha Lima (PMDB-PB), que acaba de ser eleito prefeito de Campina Grande (PB). O senador não escondeu que queria dar chance para que seu suplente, o empresário José Carlos da Silva Júnior, assumisse a cadeira.
"Eu tenho os votos, mas quem tem a grana é ele", afirmou Cunha Lima.
Trabalhadores
Entre os suplentes que viraram titulares, Ney Suassuna (PMDB-PB) e Gilberto Miranda (PMDB-AM) são os mais atuantes. Suassuna é um dos senadores que mais apresentam projetos de lei e destacou-se como relator de matérias importantes para o governo, como a Lei de Patentes.
Como presidente da CAE (Comissão de Assuntos Econômicos) do Senado, Miranda controla a discussão de assuntos polêmicos, como a negociação das dívidas dos Estados.

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