São Paulo, domingo, 17 de novembro de 1996
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Prefeito discorda da fusão do seu partido com o PPS

FERNANDO GODINHO; PAULO PEIXOTO
DO ENVIADO ESPECIAL A BELO HORIZONTE

Célio de Castro discorda da fusão do seu partido com o PPS.
Essa articulação está sendo conduzida pelos principais líderes das duas legendas, o governador de Pernambuco, Miguel Arraes (PSB), e o senador Roberto Freire (PPS-PE).
Em entrevista à Folha, Castro afirma sua autonomia no PSB e avalia que a sua eleição é, "sem nenhuma pretensão, o modelo inicial de uma alternativa ao projeto neoliberal" de FHC.
Ele é favorável à reeleição, desde que não seja válida para o presidente Fernando Henrique Cardoso, para os atuais governadores e para os prefeitos que acabaram de ser eleitos. A seguir, os principais trechos da entrevista:
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Folha - Está sendo discutida a fusão do PSB com o PPS, além de partidos menores de esquerda. O senhor apóia essa idéia?
Célio de Castro - Essa idéia aparece toda vez que há uma eleição. Mas um partido não se forma com a mera junção de legendas. Um partido político deve sair a partir de uma ampla discussão com a população.
Folha - Uma das razões para esse novo partido é que ele seria uma alternativa ao PT.
Castro - Nunca pensei na construção de um partido com um radicalismo dessa natureza. Os partidos políticos podem conviver com suas diferenças.
Folha - Durante a campanha, o sr. disse ter independência dentro do PSB. Agora, é o principal prefeito da legenda. Como será sua postura daqui para a frente?
Castro - Tenho fidelidade às linhas ideológicas do partido. Mas também tenho independência e autonomia para expressar opiniões políticas próprias, sem o caráter de subordinação tão comum na política e que chega a resvalar na subserviência.
Sempre tive com o governador Arraes (atual presidente do PSB) a melhor das relações. Quando ele era deputado, foi o meu liderado mais respeitoso e disciplinado. E muitas vezes nós discordamos. Meu procedimento político não se dá por meio do alinhamento automático e da subordinação.
Folha - Sua autonomia não está ligada ao fato de que o sr. integra um pequeno partido?
Castro - Já participei de partidos maiores, como o PMDB e o PSDB. Participei também do PC do B. Em todos eles, pude exercer esse tipo de pensamento.
Folha - Como a eleição do sr. atrapalha os planos do PSDB mineiro e nacional?
Castro - A eleição de Belo Horizonte constituiu um momento de reflexão de todo o país. Foi construída uma aliança de centro-esquerda, de caráter progressista. Sem nenhuma pretensão, pode ser o modelo inicial de uma alternativa ao neoliberalismo.
Folha - O sr. não teme ficar isolado, uma vez que as principais prefeituras do país (São Paulo, Rio, Salvador e Recife) serão dirigidas por partidos mais à direita?
Castro - Não. Os projetos políticos de maior envergadura não estão convencionados às composições partidárias específicas. São exemplos recentes as campanhas pelas anistia e pelas eleições diretas, além do processo de impeachment do presidente Collor.
Folha - Qual a sua opinião sobre o governo do presidente Fernando Henrique Cardoso?
Castro - O presidente defende, de maneira clara, que a miséria e a pobreza são naturais, que uma parcela considerável da população terá que viver nessas circunstâncias por uma decisão de governo. Está dito na entrevista que ele concedeu à Folha. A miséria não é natural, a pobreza não é determinada por Deus. Concordamos que a estabilização monetária e o combate à inflação são um bem. Mas o preço que está sendo pago é muito alto.
Folha - O sr. vai dar continuidade à atual administração petista, da qual o sr. é o vice-prefeito?
Castro - Sempre defendi isso. Mas a continuidade deve ter por base projetos que têm legitimação da opinião pública. Não vejo a continuidade como algo mimético, mas como algo diferente.
Folha - Sua coligação oficial reúne três partidos, mas o sr. acabou sendo eleito com o apoio de 14 legendas. Como o sr. fará para governar com tantos aliados?
Castro - A aliança política nunca deve estar sustentada sobre acordos que visem leiloar o governo. E sim sobre o princípio de que a composição do governo corresponde ao interesse público. Não tenho nenhum compromisso com qualquer um desses partidos para discutir a eventual composição do governo.
Folha - O sr. vai dar um tratamento especial para o PT, pois já declarou que a equipe do partido é competente e que será fundamental ter a legenda ao seu lado.
Castro - Isso não significa que vou dar um tratamento especial ao PT. Existem cinco critérios para a participação na minha equipe. A pessoa deverá ter uma trajetória de rigorosa honestidade pessoal, política e profissional, ter qualificação para o exercício da função, ter competência comprovada, ter capacidade de exercitar um diálogo com todos os setores representativos e ser capaz de estar sempre executando o princípio da participação popular no governo.
(FERNANDO GODINHO e PAULO PEIXOTO)

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