São Paulo, domingo, 17 de novembro de 1996
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Brasil debate novo papel para o homem

AURELIANO BIANCARELLI
DA REPORTAGEM LOCAL

No próximo ano, o Brasil vai sediar dois encontros internacionais dedicados ao assunto "homem". Um acontece em julho, em São Paulo; outro, no Rio, em outubro.
Homens e mulheres vão debater a busca de um novo papel masculino. Não será uma guerra dos sexos, mas uma espécie de "encontro dos homens perdidos".
O personagem que estará no centro dos debates é um homem que precisa de ajuda. Ele se sente inseguro, injustiçado e humilhado.
Alguns não escondem uma ponta de raiva das mulheres, outros querem renegociar seus direitos na relação, formando um movimento "masculista", referência direta ao movimento feminista iniciado pelas mulheres na década de 60.
Eles afirmam que se cansaram de cobranças e querem a regalia de poder relaxar e de não serem cobrados no trabalho e na cama.
Encurralados por 30 anos de conquistas feministas, os homens constatam, atrapalhados, que só perderam terreno. Em casa, seu salário não é mais o único e, muitas vezes, nem o maior. Sua autoridade é dispensável ou questionada. Quando tenta dividir tarefas domésticas, acaba quebrando copos ou queimando a comida.
"É hora de homens e mulheres pensarem no homem", diz o psicoterapeuta Luiz Cuschnir, 47, dois filhos, organizador do 2º Congresso Internacional da Identidade do Homem, em São Paulo -o primeiro foi no Canadá.
"O homem chega em casa e não encontra um lugar. Aparece sempre fora de hora, sua pasta atrapalha e os palpites para os filhos são sempre errados ou inoportunos", afirma Cuschnir. Para ele, os grupos masculistas tendem a crescer.
O psicoterapeuta carioca Paulo Silveira -42 anos e quatro filhos- vem estudando o tema há uma década e organizou em agosto o simpósio "O Exercício da Paternidade". Na sua opinião, o homem está constantemente tendo de provar sua masculinidade. "Ele se sente ameaçado de perder o lugar no emprego e na família e até o direito de ver os filhos."
Outro psicoterapeuta carioca, Sócrates Nolasco, 39, diz que muitos homens não estão mais a fim de "seguir o modelo masculino do sucesso, dinheiro e violência".
Nolasco, separado, que tem a guarda de uma filha de 6 anos, criou a Associação Brasileira de Pesquisa sobre a Condição Masculina e o serviço telefônico "Pai 24 Horas" (021/294-7104). É essa entidade que promoverá o 3º encontro sobre a masculinidade, no Rio.
Nos dois encontros anteriores, o público passou de 180 para 320 pessoas e a porcentagem de homens aumentou de 30% para 50%.
O masculino ainda não é um tema para homem discutir. O debate sobre o homem -segundo Nolasco- ainda está restrito a alguns grupos, e o acerto entre os papéis ainda não ocorreu.

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