São Paulo, domingo, 17 de novembro de 1996
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Dirigentes da UNE não frequentam aulas

FERNANDO ROSSETTI*
DA REPORTAGEM LOCAL

A militância na UNE (União Nacional dos Estudantes) virou coisa de profissional. Nenhum dos seis principais dirigentes da entidade frequenta o curso universitário ao qual está matriculado.
Prestes a completar 60 anos, a UNE surgiu em oposição à ditadura de Getúlio Vargas em 1937, atuou clandestinamente no regime militar, de 1964 a 1978, e voltou a ter presença importante com as manifestações pelo impeachment de Fernando Collor em 1991 e 1992.
No último domingo, estragou a festa do Ministério da Educação, com uma manifestação um tanto violenta contra o provão, que deixou de fora do Colégio Dom Pedro 2º, no Rio, 45% dos 1.990 alunos que lá fariam o exame.
Nesses quase 60 anos, uma das mudanças mais definitivas na profissionalização dos dirigentes ocorreu já nos anos 90.
Foi a criação das carteirinhas estudantis, que garantem meia entrada em eventos culturais, e têm parte de sua arrecadação voltada não apenas para a UNE, como para associações estaduais, municipais e das próprias faculdades.
Com isso, os partidos que tradicionalmente disputavam a entidade pela visibilidade política que ela oferece, passaram a disputar também recursos que bancam as campanhas e viagens dos militantes.
Desde a reconstrução da UNE, em 1979, o PC do B tem sido o partido mais hábil nessa disputa.
O presidente da UNE no processo de impeachment, Lindberg Farias, até disse que voltaria a estudar. Mas foi eleito deputado federal (PC do B) e desistiu.
Hoje, para os diretores da entidade, o problema não é tanto estudar, mas garantir suas vagas na universidade enquanto passam a maior parte do tempo fora dela.
O presidente, Orlando Silva Júnior, está afastado há quatro anos de seu curso de direito -um dos avaliados pelo provão- na Universidade Católica de Salvador.
Mas tem a vaga garantida por uma determinação do estatuto da instituição, que considera exceção estudantes "exercendo um mandato de serviço coletivo".
O mesmo não ocorre com o vice-presidente, Bento Ferreira, que deve ser jubilado -perder a vaga- no ano que vem (leia abaixo).

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