São Paulo, domingo, 17 de novembro de 1996
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Entidades masculinas se fortalecem

CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
DE WASHINGTON

Mais quieto do que seu predecessor feminista dos anos 60 e 70, o movimento masculino nos EUA se solidifica neste final de século.
A princípio, ainda no fim dos anos 70, alguns autores e grupos informais discutiam o papel do homem e ensaiavam mudanças.
Em parte, era uma resposta receptiva dos homens a reivindicações das mulheres: se ela vai para a força de trabalho fora de casa, ele deveria assumir pelo menos parte das tarefas domésticas com ela.
Depois, diversas denominações religiosas protestantes começaram a rever a personalidade masculina na sociedade.
Programas dirigidos apenas aos fiéis homens tentavam convencê-los a deixar de lado o comportamento agressivo e violento que caracteriza sua socialização.
No final da década de 80, milhares de homens se concentravam em estádios de futebol para rezar e refletir sobre sua condição sexual.
Nos últimos três anos, o movimento masculino começou a reivindicar. Se o homem agora divide as tarefas domésticas, deve ter mais direitos na educação dos filhos e mais chances de obter sua custódia em caso de divórcio.
Se a mulher pode evitar a maternidade indesejada com o aborto, ele deve ser capaz de negar a paternidade indesejada na Justiça.
Autores como o psicólogo Michael Gurian, por exemplo, argumentam que os meninos nos EUA estão se tornando vítimas de preconceito sexual: "Eles aprendem desde cedo que são os vilões do mundo e as meninas as vítimas".
O resultado é que atualmente há no país quatro vezes mais garotos com distúrbios emocionais do que garotas; duas vezes mais meninos com problemas de aprendizado; as chances de repetência deles numa das oito primeiras séries do 1º grau é 50% maior do que as delas.
Um sociólogo, David Blankehorn, afirma que "o senso comum de toda uma geração é que os homens são basicamente destrutivos, e as mulheres, construtivas".
Até algumas intelectuais mulheres e feministas, como Camille Paglia, concordam: "Os rapazes têm reduzido a si próprios por causa desse veneno; eles se desesperam em busca da aprovação feminina".
As organizações masculinas se espalham pelo país, com números cada vez maiores de associados.
O Centro para a Paternidade ajuda os pais a encontrar lugar na família. A Coalizão de Pais Americanos dá assistência jurídica a quem tenta obter a guarda dos filhos. A Escolha para os Homens e o Centro Nacional dos Homens luta pelo "aborto masculino". A Rede dos Pais em Casa orienta quem assumiu tarefas domésticas. Há mais de cem entidades se dedicando ao estudo de questões masculinas e à defesa de interesses do homem, e a tendência é de crescimento.

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