São Paulo, domingo, 17 de novembro de 1996 |
Texto Anterior |
Próximo Texto |
Índice
Brasil é só o 8º investidor na Argentina
RODRIGO BERTOLOTTO
Mas os dados divulgados pela Fundação Invertir em novembro mostram que o Brasil ultrapassou a Alemanha no ranking de inversões externas na economia platina. Coletando as cifras veiculadas pelas empresas, a fundação detectou que o Brasil reservou US$ 866 milhões entre os anos 1994 e 2003. No mesmo período, os empresários dos EUA colocaram quase dez vezes mais dinheiro no setor produtivo da Argentina. Levando em conta os investimentos anteriores a 1994, os números mudam. Os atuais US$ 2 bilhões brasileiros já investidos começaram a chegar em grande número em 1992. No momento, os maiores investidores brasileiros são a Petrobrás, a Brahma e a White Martins. A nova fábrica da Brahma na cidade de Luján exigiu US$ 160 milhões. A associação entre Petrobrás e YPF (principal petroleira argentina) garante outros US$ 500 milhões. A "invasão chilena" começou dois anos antes e já fez atravessar a cordilheira andina US$ 5,5 bilhões. Mas o destino dos capitais é totalmente diferente. Enquanto os empresários brasileiros escolheram indústrias e bancos, os chilenos deram preferência ao setor energético. As empresas do Chile compraram termoelétricas e hidrelétricas, o que suscitou desconfiança dos setores nacionalistas. "A integração política e econômica afasta qualquer hipótese de conflito com a Argentina. Há sete anos tínhamos 24 disputas fronteiriças pendentes. Hoje, existe só uma", afirmou o presidente chileno, Eduardo Frei. O Chile, país latino-americano de maior sucesso econômico nos últimos anos, investiu mais de US$ 12 bilhões no exterior, com 46% se transferindo para a Argentina. Os chilenos, assim como os franceses, italianos e espanhóis, participaram ativamente do processo de privatização dos últimos anos. O Brasil, não. Curva descendente Segundo os últimos cálculos do Ministério de Economia, os estrangeiros já destinaram US$ 27 bilhões em investimentos diretos no período de 1994 a 2003. Mas a maior parte desse volume chegará antes do final deste ano, o que significa que só 24% do dinheiro externo virá nos próximos anos. Os analistas dizem que os investimentos tentem a diminuir, posto que os setores mais atrativos já captaram as inversões e alcançaram alto nível de competitividade. Até este ano, 80% desses investimentos se dirigiram a cinco setores: telecomunicações, automotor, petroquímica, alimentos e energia. A área automotriz é a que sofrerá maior redução, obedecendo à lógica de desenvolvimento e produção especializada de novos modelos para o mercado mundial. A mesma lógica é adotada pela indústria alimentícia. Para Bernardo Kosacoff, economista da Cepal (Comissão Econômica para a América Latina), o capital brasileiro vai na contramão da tendência, com uma projeção de aumento nos próximos anos. "Os capitais europeus e chilenos vieram atrás das empresas estatais. Os brasileiros vêm para a Argentina para aprender a lógica dos mercados internacionais. É um fenômeno estrutural", disse à Folha o economista. Mudança de consciência "A tendência a aceitar as empresas estrangeiras começou após a Guerra das Malvinas em 1982", analisa o diretor da consultoria Cicmas, José Crespo. "Quando se teve consciência de que as empresas do exterior eram promotoras de emprego, a opinião pública mudou", diz Crespo. Na verdade, a onda de investimentos estrangeiros veio simultaneamente ao aumento do desemprego, que está agora em 17,1% da população economicamente ativa. Com fábricas de alta tecnologia e métodos de gerenciamento muito competitivo, as empresas recém-instaladas não contribuem diretamente para o fim do principal problema social do país. Texto Anterior: Mais um erro da imprensa Próximo Texto: Empresários argentinos querem participar mais de privatizações Índice |
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress. |