São Paulo, domingo, 17 de novembro de 1996 |
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Produção de fio de seda despenca em São Paulo
LUIZ MALAVOLTA
O casulo é o emaranhado de fio de seda produzido pela larva do bicho-da-seda. Em 96 a produção do Estado deve totalizar 2.400 toneladas de casulo, o que representa apenas 13,5% do volume nacional. José Yamaguti, 58, presidente da comissão da Faesp e líder dos produtores paulistas de fios de seda, responsabiliza a falta de uma política estadual para o setor pela queda da produção. Por duas décadas, Yamaguti foi considerado um dos maiores produtores brasileiros de casulos. Sua produção atingia uma média de 40 toneladas de casulos por ano. Em 95, ele desativou os 14 ranchos de produção de casulos e partiu para outra atividade. Hoje, em sua propriedade rural de 75 alqueires, em Lucianópolis (região de Marília), Yamaguti produz pêssego, maracujá, café e seringueira. "Não podia aguentar mais tanto prejuízo. Enquanto não houver uma política clara, o setor estará fadado à extinção", diz Yamaguti. Abandono Segundo a Comissão Técnica de Sericicultura da Faesp (Federação da Agricultura do Estado de São Paulo), cerca de 60% dos 3.000 produtores paulistas abandonaram a atividade nos últimos cinco anos. A região centro-oeste de São Paulo é a que mais sofre com a crise. A cidade de Gália (entre Marília e Bauru) chegou a ter 300 produtores de casulo na década de 80. Hoje, segundo o Instituto de Zootecnia da Secretaria Estadual da Agricultura, o município tem apenas 60. O colapso da produção de fios alastrou a crise para as tecelagens de seda da região. O presidente da Abrasedas (Associação Brasileira da Indústria de Fios de Seda), Antônio Takao Amano, 54, disse que a produção nacional de fios de seda caiu 27% nos últimos seis anos. "Das 40 tecelagens que trabalhavam com seda no Brasil no início dos anos 90, hoje restam apenas dez", conta ele. Competição impossível Amano considera difícil competir com a seda produzida na China. O país é o maior produtor mundial, com 66.060 toneladas. O quilo de fio de seda chinês custa US$ 30; o quilo do brasileiro, US$ 40. Como 98% da produção brasileira é exportada, fica quase impossível competir com a China no mercado internacional, diz ele. Depois da industrialização do fio, as coisas pioram para o lado brasileiro. Segundo Amano, o trabalhador de uma tecelagem chinesa ganha US$ 30 por mês. Com isso, uma camisa de seda feita na China pode ser exportada por cerca de US$ 15. A camisa brasileira não sai por menos de US$ 25. Texto Anterior: A democracia em questão Próximo Texto: Produção precisa mudar Índice |
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