São Paulo, domingo, 17 de novembro de 1996
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País corre risco de blecaute, diz presidente da Siemens

ANTONIO CARLOS SEIDL
DA REPORTAGEM LOCAL

Hermann Wever, presidente da Siemens, disse que o ritmo lento da regulamentação da privatização do setor elétrico atrasa os investimentos privados e aumenta o risco de blecaute (racionamento de energia elétrica) no país.
A afirmação foi feita durante o seminário "Um novo modelo energético para o Brasil", realizado pela Câmara de Comércio e Indústria Brasil-Alemanha de São Paulo.
No mesmo encontro, Peter Greiner, secretário de Energia do Ministério das Minas e Energia, defendeu o ritmo da abertura do setor elétrico à iniciativa privada.
Para Greiner, o ritmo é determinado pelas negociações políticas necessárias para a aprovação de reformas em regime democrático.
Impaciência
O presidente da Siemens, multinacional alemã de equipamentos para o setor elétrico e de telecomunicações, reconheceu que o governo está caminhando na direção certa, estabelecendo os fundamentos para um crescimento sólido do setor elétrico no futuro.
Mas, dizendo que os empresários estão impacientes, Wever insistiu na sua crítica: "A única pergunta que resta é se a velocidade é suficiente ou se poderá pôr em risco o abastecimento de energia no Brasil? Isso nos angustia".
Irônico, Wever disse que a redução do risco de blecaute no país depende de dois fatores distintos: a natureza e a âncora cambial.
"Não correremos risco nenhum na medida em que tenhamos chuvas copiosas e na medida em que a economia cresça mais devagar do que todos gostaríamos", afirmou.
Adversário obstinado da âncora cambial (sobrevalorização do real em relação ao dólar), Wever alfinetou mais uma vez a equipe econômica: "No fundo, é mais uma utilidade da âncora."
Bases sólidas
O secretário do Ministério das Minas e Energia argumentou que o ritmo lento da regulamentação da abertura do setor elétrico é necessário para que o processo seja erguido em bases sólidas.
Segundo Greiner, se o governo atropelar o processo de abertura em resposta aos problemas urgentes, pode cometer erros que vão ficar permanentes.
Ele disse que a privatização do setor elétrico está entregue a consultorias internacionais para que uma base mais correta e sólida seja estabelecida.
O Ministério das Minas e Energia calcula que o país precisa investir US$ 7 bilhões por ano para evitar a escassez de energia elétrica. Atualmente, os investimentos, ainda de responsabilidade exclusiva do setor público, não chegam a US$ 2 bilhões.
Para Wever, o risco de blecaute é real porque os investimentos privados não são feitos da noite para o dia.
Para ele, falta experiência prática ao governo sobre o funcionamento da livre iniciativa.

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