São Paulo, domingo, 17 de novembro de 1996
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Em 30 anos, só se formaram 115 astrônomos

LUÍS PEREZ
DA REPORTAGEM LOCAL

Quem quer seguir a carreira de astrônomo para ganhar dinheiro pode esquecer. A profissão, restrita a pesquisas em órgãos governamentais, não proporciona nenhuma remuneração astronômica -muito pelo contrário.
Por uma formação que consome no mínimo dez anos -só há um curso de graduação no país, o da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro)-, um profissional com doutorado ganha em média R$ 2.000 por mês.
Mas o que faz um astrônomo? "Em resumo, tenta conhecer o universo em que vive e procura interpretá-lo", diz Edemundo da Rocha Vieira, 61, diretor do Laboratório Nacional de Astrofísica.
A formação é demorada porque a maioria dos cursos é de pós-graduação. "E o mercado é necessariamente restrito", diz Amâncio Friaça, 40, professor do Instituto Astronômico e Geofísico da USP (Universidade de São Paulo).
"A pessoa não pode mesmo ser motivada pelo lado financeiro, mas por vocação", diz Marcos Perez Diaz, 32, astrônomo do laboratório nacional e do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico).
Ele é um exemplo típico de como a formação demora: fez graduação em física por quatro anos, depois mestrado e doutorado, que levaram mais seis anos e meio.
"Para quem se interessa, vale a pena. É uma profissão que apresenta desafios." Segundo ele, o fato de a iniciativa privada não participar não é nem ruim, nem bom. "É como as coisas são."
Quem quiser encurtar o caminho, com a graduação da UFRJ, deve estar consciente de que o curso é "extremamente pesado". Quem avisa é a chefe do Departamento de Astronomia da universidade, Lilia Arany Prado, 46.
Ela mostra números: nos 30 anos de curso, só se formaram 115 alunos. "Muitos não aguentam. É preciso ter um ideal. É muito trabalho para ganhar pouco."
Para conseguir desenvolver um trabalho, é preciso ter um bom projeto -essa é a melhor forma de abrir portas, segundo o diretor do laboratório de astrofísica.
Ser um bom profissional envolve paixão e intimidade com "monstros" do colégio, como física, matemática e química.
Por isso há poucos profissionais no país -entre 200 e 300. São eles que analisam choques de planetas com estrelas, eclipses, cometas, segundo Edemundo Vieira, "de forma absolutamente técnica, sem nada de sobrenatural".
Mas o campo restrito promete se abrir com a instalação de novos projetos dos quais o Brasil participa. "Não só para astrônomos, mas para outros cientistas."

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