São Paulo, domingo, 17 de novembro de 1996
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Ausência de Viola pode ajudar o Palmeiras

ALBERTO HELENA JR.
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

O Palmeiras, sem Viola e tocado nos brios por duas derrotas consecutivas, recebe hoje um Atlético Mineiro resgatado do fundo do poço por Eduardo Amorim, o execrado do Parque São Jorge.
Não sei que pajelança o técnico Luxemburgo fez para recuperar o moral dos guerreiros alviverdes, mas desconfio que a ausência de Viola poderá contribuir para a retomada da postura de líder perdida na semana passada. Não que Viola viesse jogando mal, nada disso, embora jamais tenha chegado no verde Parque ao nível que atingira no Parque rival. Fez lá seus golzinhos, alguns providenciais até.
Mas, taticamente, com ele o Palmeiras se desarrumou, por mais contraditório que pareça. Sim, porque esse Palmeiras que alcançara o nirvana com dois atacantes típicos -Muller e Luizão-, no primeiro semestre, pronto se reaprumou no novo esquema, com apenas um avante genuíno -Luizão- e três armadores: Djalminha, mais à frente, Rincón e Elivélton. Com a chegada de Viola, tentou restabelecer o sistema anterior. Mas, tudo indica, o que não se estabeleceu foi a química entre os dois avantes.
A partir de hoje, poderemos conferir se é isso mesmo.
*
Esse moleque é safado. E traiçoeiro. Safado pois podem preparar-lhe armadilhas que ele se safa delas todas, utilizando-se de três armas afiadas: a perninha esquerda sempre atilada, a velocidade que parece fazer levitar seu corpinho mirrado e a coragem de enfrentar qualquer situação. Traiçoeiro porque quando o adversário se julga dono da bola e do pedaço, ele logo dá uma cutilada na menina com a ponta do pé esquerdo e sai para o salseiro geral.
Safou-se, primeiro, do destino das ruas de Diadema, cidade onde se criou, vendo os amigos de infância caindo, no jargão policial, um a um. Com a bola colada ao pé esquerdo, para não ser gauche na vida, correndo junto à linha marginal, descobriu o atalho que o levou direto dos juvenis para os profissionais do São Paulo, driblando toda a fase de juniores que não teve de cumprir.
Aos 17 anos, safou-se das seduções da fama precoce, fintou a má fase de seu time e deu um drible de corpo na torcida raivosa e intolerante que chegou a persegui-lo com vaias ininterruptas, sempre que pegava na bola, em alguns jogos do Paulistão.
Aos 19, estreou na seleção, contra Camarões. Correu, marcou, lançou, driblou, pois nisso é irrecuperável, por la gracia de Diós, e, no final, esculpiu uma jogada de craque consumado no segundo gol, marcado por Djalminha.
Então, é ou não é safado esse moleque Denílson?
*
Zagallo, que sonha o sonho de Parreira traduzido na fórmula 4-6-0, terá mesmo de se contentar com o 4-2-3-1. Pelo menos, até o ano 2010, período reservado ao reinado de Ronaldinho.
Mas, se quiser chegar ao 4-5-1, basta mexer nos dois volantes, conferindo ao setor mais técnica e menos volúpia. Por exemplo: recuando para ali craques como Leonardo.
Como dizia o velho Acácio, é mais fácil ensinar o craque a destruir do que o cabeça-de-bagre a criar.

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