São Paulo, domingo, 17 de novembro de 1996
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Grupo dos Sete cria a Universalis

JOSE LUIZ SILVA
ESPECIAL PARA A FOLHA

Agora que tantos podem ter acesso a tantas informações, é hora de constituir uma "sociedade de informação" que de fato assegure a todos os indivíduos o acesso a fontes distantes.
A opinião é da francesa Ga‰lle Bequet, diretora de livros e leitura do Ministério da Cultura da França. Ela estudou biblioteconomia na École Nationale Supérieur des Sciences de l'Information et des Bibliothèques em Lyon (França), trabalhou na University of Georgia Libraries (EUA) e é a responsável na França pelo Projeto Bibliotheca Universalis.
Bibliotheca Universalis é um projeto piloto do G-7, grupo dos sete países mais industrializados (EUA, Canadá, Alemanha, Inglaterra, França, Itália e Japão), lançado em 1995. Seu objetivo é unificar os formatos de digitação e os protocolos de transmissão da dados de todas as bibliotecas digitais dos países do G-7. Formatos são sistemas de codificação de informação, e protocolos são regras que governam o modo como os computadores conversam entre si.
Se os formatos e protocolos de todas as bibliotecas eletrônicas forem os mesmos, elas não terão problemas na troca de seus dados. Os formatos ainda não foram definidos. Se implementada, a Bibliotheca Universalis será uma porta de acesso às bibliotecas virtuais dos países do G-7.
O projeto ainda não tem site próprio. Em maio de 1996, numa reunião do G-7 em Midrand, na África do Sul, foi feita a demonstração de uma maquete experimental.
Ela continha documentos digitais da Biblioteca do Congresso (Washington, EUA) e da Biblioteca Nacional da França (Paris, França), entre outras.
A implantação da Bibliotheca Universalis está a cargo de um secretariado franco-japonês, formado por Akitaka Saiki, diretor do Ministério de Relações Exteriores do Japão, Dominique Arot, diretor do Ministério do Meio Ambiente da França, e Bequet, do Ministério da Cultura da França.
A Universalis é parte de um projeto maior do G-7 de formação de uma "sociedade de informação" dedicada à troca universal de informações -culturais, sociais, econômicas, profissionais, educacionais, políticas ou de qualquer outra natureza.
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Folha - O que é o Projeto Bibliotheca Universalis?
Bequet - É um projeto lançado pelo G-7 em fevereiro de 1995 sob a forma de um acordo entre os países cujas bibliotecas nacionais, públicas e universitárias, lançaram ou vão lançar programas de digitação de informações de diferentes naturezas (textos, imagens e sons).
Folha - Quem patrocina o Bibliotheca Universalis?
Bequet - A iniciativa desse projeto foi tomada pelo G-7. Ele se apóia sobre as políticas nacionais dos países membros. A orientação do projeto é a troca de experiências, uma vez que todos os países participantes têm programas nacionais nesse domínio. Neste momento, a participação de sociedades privadas não é visada.
Folha - Qual é o objetivo do projeto?
Bequet - O objetivo é chegar à utilização, nas bibliotecas envolvidas, das mesmas normas de digitação de documentos e dos mesmos protocolos de transmissão de dados. Atualmente, já estão disponíveis algumas coleções digitais, como uma de mil selos do servidor da Biblioteca Nacional da França (http://www.culture.fr).
Para cada servidor, a estrutura de acesso ao documento digital é diferente. A idéia é utilizar notas bibliográficas normalizadas para acessar os documentos. Outro objetivo é permitir a pesquisa dos servidores em muitas línguas.
Folha - Que tecnologia da informação a Universalis pode gerar?
Bequet - A Bibliotheca Universalis apóia-se sobre programas já existentes de digitação. Ele tira partido de tecnologia existente, como, por exemplo, os servidores World Wide Web (WWW).
Folha - A "Enciclopédia" de Diderot, Rousseau e outros foi, no século 18, um grande projeto de catalogação do saber humano. A Universalis pode ser visto como uma nova "Enciclopédia"?
Bequet - A "Enciclopédia" foi uma empresa de organização racional do saber humano. Pode-se falar de racionalidade quando se fala em Internet? Os parceiros do Projeto Bibliotheca Universalis não representam senão uma parte dos que alimentam a rede em informação. Eles não podem controlar toda a produção.
No interior da Bibliotheca Universalis não há acordo sobre os critérios precisos de seleção das obras. Os programas de digitação são, sobretudo, nacionais.
Folha - O que a sociedade de informação oferece ao indivíduo?
Bequet - O leitmotiv da sociedade de informação é permitir a cada indivíduo o acesso a fontes de informação distantes e o seu uso para fins profissionais e educativos. Em troca, o indivíduo pode difundir as redes de informação de toda natureza, trocar opiniões e debater por correio eletrônico.
É importante que esse indivíduo possa se comunicar em sua língua materna. Se, como se constata, os custos de conexão à Internet diminuem, cada vez mais indivíduos poderão ter acesso a rede e aumentar o número de línguas utilizadas.
Folha - Como a senhora vê o direito autoral?
Bequet - É preferível, num primeiro momento, difundir os documentos livres de direitos. Como existem legislações diferentes nos países participantes do projeto, é necessário resolver esse problema localmente. Na Comunidade Européia, várias iniciativas estão em curso para harmonizar as posições dos países membros.
Folha - Qual é o critério usado na seleção dos textos?
Bequet - A escolha dos critérios de seleção é deixada aos participantes. A tendência é digitar documentos antigos e preciosos, a fim de os divulgar mais amplamente do que eles já o são hoje.
(José Luiz Silva)

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