São Paulo, domingo, 17 de novembro de 1996
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Estudos tentam superar problemas de transplantes de animais para homens

JOSÉ REIS
ESPECIAL PARA A FOLHA

Sérios fatores contribuem para a dificuldade de transplante de órgãos de animais para o homem (xenotransplante), tais como a rejeição e a crescente falta de doadores adequados. Diante disso têm-se acentuado as pesquisas a esse respeito. Salienta Wade Rousch em artigo na "Science" que o processo de rejeição no implantado nem sempre é brando, mas pode ser violento e súbito, com inchaço e enegrecimento imediatos, pelo afluxo de plaquetas que se prendem ao revestimento interno dos vasos, coagulam e impedem o fluxo sanguíneo.
O fenômeno (rejeição hiperaguda) e outros relacionados e mais demorados (reação retardada ao xenotransplante) ocorrem na superfície das células endoteliais que forram os vasos.
Os pesquisadores têm estudado meios de restabelecer a circulação interrompida pelas plaquetas. No 3º Congresso Internacional de Xenotransplantação, em Boston (EUA), foram apresentadas duas estratégias para esse fim, uma por cientistas do New England Deaconess Hospital (NEDH, dos EUA), outra por David White, da Imutran, empresa britânica de transplantes.
O primeiro grupo sugeriu que, quando o sangue penetra o transplante, os radicais ativos de oxigênio do sangue podem lesar uma enzima inibidora fundamental, a ectoATPase. O tratamento antecipado e profilático do tecido por um agente antioxidante assegura a permanência da enzima e sua atividade, segundo Simon Robson e colaboradores de NEDH. Esse trabalho despertou muito interesse.
O grupo do Imutran baseou sua estratégia na genética. Os órgãos de porcos doadores geneticamente "engenheirados" para expressar reguladores imunes humanos sobrevivem em macacos por oito semanas sem sinal de rejeição. A estratégia de White baseia-se na ação do complemento, tipo de toxina natural do sangue. A estratégia do NEDH foi claramente preferida e, no momento, os dois grupos discutem pormenores, cada qual buscando argumentos a seu favor.
Tanto na reação hiperaguda quanto na retardada, as células endoteliais, em condições normais, ajudam a manter o sangue líquido pela produção de proteínas e enzimas de superfície que impedem a agregação das plaquetas. Mas deixam de proceder assim quando o sangue do hospedeiro encontra as paredes dos vasos nos órgãos do doador. Os especialistas explicam esse fato pela intervenção de anticorpos naturais xeno-reativos e do complemento, que acarretam o enrugamento das células endoteliais, expondo as moléculas ativadoras das plaquetas nos tecidos que ficam por baixo.

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