São Paulo, domingo, 17 de novembro de 1996
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'O Corcunda de Notre Dame' opta pela comédia

MÔNICA RODRIGUES COSTA
EDITORA DA FOLHINHA

O espetáculo "O Corcunda de Notre Dame", com adaptação de Érika Barbin e direção de Renato Figueiredo, não tem como ser muito diferente do desenho animado homônimo da Disney.
Em primeiro lugar, porque procura identificar-se com o filme, seguindo os passos de sua estrutura narrativa.
Segundo porque não há como fugir do enredo básico do clássico de Victor Hugo (1802-1885) -que, como disse Contardo Calligaris (no Mais! de 7 de julho deste ano), trata-se de uma história famosa, que faz parte da mitologia comum.
Mas a montagem de Renato Figueiredo, que levou ao palco no ano passado "O País do Diferente" conquistando merecidamente os prêmios Mambembe e APCA, tem autonomia e um pouco mais do realismo, em relação ao desenho da Disney, tão cobrado pelos críticos do filme.
A caracterização das personagens é, por exemplo, mais sinistra. E, ao mesmo tempo, consegue ser cômica e grotesca.
Pena e riso
A direção imprimiu um caráter cômico à história, sem deixar de pôr em relevo os aspectos mais importantes do enredo mitológico, como a ridicularização de Quasímodo no Festival dos Tolos ou o ressentimento de Frollo (Paulo Rocha), chefe da igreja, que maltrata a cigana Esmeralda (Manuela Assunção) por não conseguir conquistá-la.
O ator Mauricio Machado, no papel de Quasímodo, é manco como o corcunda do desenho, mas difere dele na personalidade nervosa e obsessiva, que consegue inspirar pena e provocar riso simultaneamente.
Ao contracenar com as gárgulas -personagens leves e engraçadas-, Quasímodo não cansa de repetir certas perguntas e obter respostas irônicas para elas.
Gestual
Ainda que esteja bem caracterizado e maquiado, o maior mérito em Machado é seu controle gestual.
O ator faz dos músculos do rosto simplesmente o que quer, ampliando as expressões padrões e conquistando a atenção da platéia.
As gárgulas (Thatianie Manzan e Luiza Viegas) e o soldado-arlequim Clopan (Flavio Crepaldi) igualmente dominam as cenas, com coreografias de impacto.
Falta essa densidade aos demais personagens, que estão bem porque são sustentados por um roteiro ágil, por vezes com passagens rimadas que dão delicadeza às cenas.
As cenas violentas são sutis, apenas indiciadas, o que suaviza o desenlace trágico, diferente dos emblemáticos finais felizes dos estúdios Disney.

Peça: O Corcunda de Notre Dame
Direção: Renato Figueiredo
Elenco: Manuela Assunção, Mauricio Machado, Thatianie Manzan, Luiza Viegas, Flavio Crepaldi, entre outros
Onde: teatro Fernando Azevedo, antigo teatro Caetano de Campos (praça da República, s/nº, tel. 255-7586)
Quando: sábados e domingos, às 16h
Quanto: R$ 12,00

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