São Paulo, domingo, 17 de novembro de 1996 |
Texto Anterior |
Próximo Texto |
Índice
Toda a memória do mundo
CÁSSIO STARLING CARLOS; GISELLE BEIGUELMAN
Emulando a mitológica Biblioteca de Alexandria ou, menos longinquamente, a "Enciclopédia" dos iluministas, uma legião de cybercopistas está levando a cabo o projeto de proteger as futuras gerações do pesadelo de ver todo um saber transformado em poeira. O processo de digitalização de textos, imagens e sons transformará a rede, num futuro que já está acontecendo, no maior repositório do conhecimento humano. A intenção dos megaprojetos em andamento, como o Projeto Gutenberg e a Biblioteca Universalis (leia textos nesta página e às págs. 5-5 e 5-6), é reunir toda a cultura humana e torná-la disponível a qualquer um com um teclado e um mouse ao seu alcance. O espaço virtual da rede aparentemente supera os limites físicos de acumulação e conservação enfrentados pelas bibliotecas em sentido tradicional que conhecemos. Em todos os sites-bibliotecas disponíveis hoje na rede encontra-se o aviso "em construção", como um anúncio de que a tarefa é infinita. Se comparadas com as maiores bibliotecas off line (não-eletrônicas) do mundo, ainda parece pouco. Mas instituições como a Biblioteca do Congresso dos EUA, a Biblioteca Nacional da França e a Biblioteca do Vaticano já se lançaram à concorrência salutar, transcrevendo e expondo seus tesouros. Foram deixadas de lado indagações a respeito da sobrevivência do livro enquanto objeto. Todo o investimento se concentra agora na transcrição e registro digital daquilo que mais interessa na sobrevivência dos livros: seu conteúdo. Entretanto, limites ainda existem. O maior é relativo aos direitos autorais. Os textos disponíveis na rede já haviam caído em domínio público e, portanto, podem ser reproduzidos livremente. Mas há exceções para usuários de países onde a lei de domínio público é superior a 50 anos após a morte do autor. Nestes casos, é feito um alerta sugerindo que o material não seja consultado. Em alguns sites, como o da Eletric Library, a pesquisa é gratuita, mas a reprodução só é permitida para assinantes. Em algumas universidades, como a da Virginia, alguns volumes só podem ser acessados por meio do servidor da instituição. Outra restrição é relativa à censura, que ainda paira sobre o material julgado ofensivo ou obsceno. Por isso, em boa parte dos sites se encontra o logotipo da "Free Speech Online", uma fitinha semelhante à da campanha contra a Aids, só que em azul. Contra estas limitações, os cybercopistas já se armam. O exemplo mais criativo é o site de livros banidos (leia à pág. 5-6), que reúne obras que sofreram algum tipo de proibição desde sua publicação original ou constam no Índex de livros proibidos pela Igreja. Ali se encontram obras que vão desde a Bíblia e o Alcorão (proibidos na União Soviética entre 1926 e 1956) até "E is for Ecstasy", de Nicholas Saunders, proibido na Austrália sob o argumento de que incentiva o uso da droga. A quantidade de informação disponível, porém, já supera qualquer restrição. Documentos, periódicos, edições comentadas, análises etimológicas, bibliografias, índices remissivos e onomásticos, além dos próprios textos, já foram lançados além das barreiras do espaço e do tempo. Texto Anterior: Como a astrologia se tornou junguiana Próximo Texto: Gutenberg busca 'democracia' Índice |
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress. |