São Paulo, domingo, 17 de novembro de 1996
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Perseus coleta clássicos gregos

JOSÉ LUIZ SILVA
ESPECIAL PARA A FOLHA

O Perseus é uma biblioteca eletrônica dedicada à cultura grega clássica e mais recentemente à cultura romana. Foi criado em 1987, no departamento de clássicos da Universidade de Harvard (EUA), sob a direção e chefia de edição do helenista americano Gregory Crane (autor de "The Blinded Eye: Thucydides and the New Written Word" - "O Olho Cego: Tucidídes e a Nova Palavra Escrita", Rowman and Littlefield). O projeto está hoje sediado no departamento de clássicos da Universidade Tufts.
O Perseus tem cerca de 500 textos, todos em grego e inglês (aproximadamente 7 milhões de palavras), mapas da Grécia, dois dicionários grego-inglês, mais de 5.000 fotos (de vasos, esculturas, moedas e construções) e ensaios contemporâneos sobre o mundo grego (em inglês).
Estão no Perseus as obras completas de autores como Aristófanes, Aristóteles, Demóstenes, Eurípides, Hesíodo, Homero, Lísias, Píndaro e Platão, entre outros, e partes das obras de autores como Plutarco, Sófocles e Tucídides.
As traduções inglesas da Perseus baseiam-se nas edições da Loeb Classical Library, da Harvard University Press. A maioria delas, como a "Ilíada" e a "Odisséia", de Homero, foi apenas escaneada e editada em formato eletrônico. Algumas foram revisadas ou modernizadas. Outras, como as de Píndaro, são novas. Todo o material está na página do Perseus e em CD-ROMs editados pela Yale University Press (para Macintosh).
Segundo Crane, o Perseus custou até hoje US$ 3 milhões. Sua receita vem da venda dos CD-ROMs e de patrocinadores como o Annenberg/CPB Project, Apple Computer, National Science Foundation, Xerox Corporation e Harvard University, entre outros.
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Folha - Como são editados os textos eletrônicos do Perseus?
Crane - A maior parte dos textos foi previamente impressa. E depois formatada e colocada on line. A Loeb Classical Library é a fonte de muitos textos, mas também produzimos textos nossos. Todos em que a edição da Loeb não é adequada.
Folha - Quantas pessoas já conectaram o Perseus?
Crane - Todas as 1.500 cópias do CD-ROM Perseus 1.0 foram vendidas. A maior parte da venda foi para departamentos acadêmicos e bibliotecas. O Perseus 2.0 está disponível e está vendendo bem.
Nosso site WWW é mais fácil de medir. Por exemplo, em 24 de setembro, foi acessado mais de 25 mil vezes por 2.000 pessoas -40% a partir de escolas e universidades norte-americanas, 40% a partir de endereços comerciais e particulares (em sua maior parte empresas e particulares norte-americanos). Os 20% restantes são provenientes de fora dos EUA: em especial do Canadá, da Austrália e da Inglaterra, mas também de outros países não-europeus. Sabemos que mais pessoas do Brasil usam nosso servidor do que da Holanda -ou mesmo da Grécia.
Folha - Como são escolhidos os textos do Perseus?
Crane - Escolhemos os textos mais estudados -inclusive os muito importantes, mas raramente incluídos em cursos formais sobre o mundo antigo. Temos traduções de 2/3 de toda a literatura grega desde Homero até 300 a.C. A maior falha é a ciência antiga, e já estamos trabalhando nisso. Nossos principais critérios para traduções são clareza e acuidade.
Folha - Qual é a principal dificuldade enfrentada pelo Perseus?
Crane - O difícil é estabelecer uma estrutura que nos permita crescer com o tempo. Professores podem contribuir gratuitamente, mas coisas como programação e fotos precisam de dinheiro. Temos que fazer dinheiro, mas nossa missão primordial é expandir o estudo da Antiguidade clássica. Precisamos da certeza de que os preços não excluam as pessoas do acesso ao nosso material. Se tivéssemos controle, o preço do CD ROM seria US$ 50 e não US$ 150. Nosso site WWW é gratuito e assim permanecerá até quando for possível.
Folha - Como o Perseus se posiciona frente a outros projetos de bibliotecas eletrônicas?
Crane - Ainda somos diferentes, porque nossa biblioteca é diversa e profunda. O "Thesaurus Linguae Graecae", na Universidade da Califórnia, em Irvine, tem muito mais textos gregos do que nós. Mas eles não têm nada além de textos gregos -nem mesmo traduções inglesas. Nós permanecemos os únicos, até onde eu sei, a ter uma "biblioteca" genuína. Mas as coisas estão mudando, e espero ver muito mais coisas por aí.
Folha - Vocês têm problemas com direitos autorais?
Crane - Tivemos, sim, alguns problemas com editores, que detinham direitos exclusivos sobre publicações acadêmicas.
Os autores cedem seus direitos supondo que os editores farão o máximo pela ampla disseminação de suas idéias. Mas muitos editores relutam em permitir a aparição em forma eletrônica de suas edições impressas. Isso protege seu investimento em impressão, mas compromete a intenção original do autor -que quase nunca tem alguma compensação financeira por seu trabalho. É um problema tremendo e tem a ver com os editores, não com os autores.
Folha - O que se espera do Projeto Perseus?
Crane - Naturalmente esperamos que mais pessoas gastem seu tempo lendo e pensando porque tornamos este material disponível. Já vemos algumas evidências disso a partir de nosso site WWW. Canais convencionais de comunicação dos clássicos tendem a intensificar os contatos entre os EUA e a Europa. Fico gratificado em conversar pela primeira vez com pessoas do Brasil interessadas em Antiguidade clássica. Gostaria de poder responder em português. Vivo no limite da principal comunidade brasileira dos EUA, a Inman Square, em Cambridge. Fora o inglês, escuto mais português do que qualquer outra língua.
Folha - Qual a importância da Grécia antiga hoje?
Crane - Os gregos tinham escravos, eram patriarcais e não tratavam as mulheres de um modo que aprovaríamos. Mas acreditavam muito na liberdade de fala e na troca de idéias. Eles se deliciariam em saber que podemos usar esta nova tecnologia para prover o acesso de pessoas à cultura grega.

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