São Paulo, domingo, 17 de novembro de 1996
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Radares e excesso de tráfego podem explicar série de acidentes

CHRISTOPHER BELLAMY
ELIZABETH WINE

CHRISTOPHER BELLAMY; ELIZABETH WINE
DO "THE INDEPENDENT"

Sistemas não se entendem e aviões voam muito próximos

Voar ainda é a forma mais segura de viajar, mas 1996 é um dos piores anos da história dos acidentes aéreos. O ocorrido terça-feira na Índia, que matou mais de 350 pessoas, foi o 5º desastre aéreo importante em um mês e o 12º no ano.
Há mais de 1.700 mortos neste ano -quase 1.200 em aeronaves construídas no Ocidente.
Muitos fatores levam à diminuição da segurança aérea, incluindo o aumento no tráfego, que leva os aviões a voarem muito próximos. O número de aeronaves construídas no Ocidente pulou de 7.097 em 1986 para 11.425 ano passado.
Há sugestões para diminuir o espaço vertical entre as aeronaves de 2.000 pés (pouco mais de 600 metros) para 1.000 pés. Alguns testes estão sendo feitos a 29 mil pés de altura sobre o mar do Norte para determinar se 1.000 pés é uma margem segura. Uma decisão das autoridades ligadas à aviação deve sair no começo do ano que vem.
Os aviões da Arábia Saudita e do Cazaquistão que se chocaram na Índia deveriam estar a 1.000 pés de distância (na vertical). Por alguma razão desconhecida, não bastou.
Outra possível razão para o alto número de acidentes aéreos é a idade dos aviões. Muitas das nações mais pobres das antigas Iugoslávia e URSS têm aviões com muito mais de 20 anos. Manutenção adequada pode aumentar a vida útil deles, mas ainda há algumas questões -como a qualidade dessa manutenção em tais países.
Outros aspecto preocupante é a falta de qualificação técnica entre os controladores de vôo e responsáveis por equipamentos na África e na Ásia. Muitos aeroportos não têm pessoal e/ou tecnologia para levar os aviões ao solo com segurança, deixando com que os pilotos se guiem sozinhos.
Carolyn Evans, da Associação dos Pilotos Comerciais Britânicos, diz que uma das suas principais preocupações é a falta de uniformidade entre sistemas de comunicação de aviões da ex-URSS.
Os sistemas de comunicação por radar "conversam" e enviam sinais de informação vital para os pilotos, sem que as tripulações tenham de falar entre si. O problema, segundo Evans, é que os radares da ex-URSS não "falam" com os aviões do resto do mundo e não são plenamente visíveis nas telas dos controladores de vôo. Isso significa que um controle fora do sistema de radar é necessário.
Além disso, os altímetros dos aviões da ex-URSS são calibrados em metros, enquanto no resto do mundo se usam pés. Essa pode ser a razão da catástrofe de terça-feira.

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