São Paulo, domingo, 17 de novembro de 1996
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Ricos não conhecem a fome, afirma Fidel

LUCIA MARTINS
ENVIADA ESPECIAL A ROMA

Em sua primeira visita à Itália, Fidel Castro discursou ontem na Cúpula Mundial sobre Alimentação em Roma. "Os ricos não conhecem a fome", disse.
Segundo ele, "são o capitalismo, o neoliberalismo, as leis de um mercado selvagem, a dívida externa, o subdesenvolvimento e o intercâmbio desigual que matam tantas pessoas no mundo".
O discurso foi forte, mas não houve acusações nominais. Também não houve menção direta ao governo dos EUA. O presidente cubano falou sobre a corrida armamentista, a destruição do meio ambiente e sobre o embargo.
"Por que continuam sendo produzidas armas sofisticadas depois do fim da Guerra Fria? Por que somar a isso políticas criminosas, bloqueios absurdos que incluem alimentos e medicamentos para matar povos inteiros de fome e de doenças?", perguntou.
E acrescentou: "Por que são gastos US$ 700 bilhões por ano em despesas militares e não é investida uma parte desse montante para combater a fome? Os sinos que soam por aqueles que morrem de fome hoje, amanhã soarão pela humanidade inteira que não quis, não soube e não conseguiu ser sábia para se salvar". Contrariando o hábito militar, Castro chegou por volta das 9h à sede da FAO vestido com um terno preto e gravada vermelha e foi o quinto a discursar.
Sua chegada a Roma estava prevista para a noite de quinta-feira, mas, alegando problemas meteorológicos, o presidente cubano só desembarcou na capital italiana às 22h30 de anteontem no aeroporto internacional de Fiomicino. Vestido com uniforme militar, Castro foi recebido pela delegação cubana e pela vice-secretária italiana das Relações Exteriores, Patricia Toia.
A vinda de Castro à conferência da ONU para alimentação e agricultura está sendo interpretada como uma tentativa de obter apoio mundial contra o embargo comercial, imposto pelos EUA quando Castro tomou posse em 1959.
A agenda de Fidel na Itália continua em segredo, mas ele deve ser recebido por João Paulo 2º no Vaticano. Será a primeira vez que um papa recebe o presidente cubano.
Eles acertariam a inclusão de Cuba no roteiro da viagem que João Paulo 2º fará no ano que vem pela América Latina (Brasil inclusive).
Ele ainda deve se encontrar com o presidente italiano, Oscar Luigi Scalfaro, o primeiro-ministro, Romano Prodi, e empresários.
A expectativa é que Castro fique na Itália pelo menos até amanhã. Ele deverá passar uma noite em um mosteiro franciscano na cidade de Assis (centro da Itália).

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