São Paulo, domingo, 17 de novembro de 1996
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Ex-secretário de Reagan narra invasão ao México

Libération
de Paris

BERTRAND DE LA GRANGE

Os mexicanos não sabem se devem rir ou levar a sério o cenário imaginado por Caspar Weinberger, antigo chefe do Pentágono sob a presidência de Ronald Reagan. Em livro intitulado "The Next War" (A Próxima Guerra), ele faz uma descrição detalhada da invasão de seu país pelos Estados Unidos, no dia 14 de abril de 2003.
O livro será lançado nos EUA nos próximos dias, e na semana passada os jornais mexicanos publicaram longos trechos extraídos dele.
O ex-secretário norte-americano da Defesa (1981-1987) narra como o Exército norte-americano poderá ser levado a intervir no México, para restabelecer a ordem nesse país vizinho.
Tudo começa no dia 2 de junho de 1999, quando "um estudante de 21 anos, movido por um sonho utópico", assassina o presidente "Lorenzo Zapata, economista formado nos Estados Unidos", que empreendeu uma luta ferrenha contra a corrupção e colabora com Washington no combate ao narcotráfico. O assassino escapa da polícia graças à ajuda dos cartéis da droga, e uma Frente de Salvação Nacional, dirigida por Eduardo Francisco Ruiz, "professor universitário formado pelos jesuítas", assume o poder. Ruiz não demora a adotar medidas radicais, como a nacionalização dos bancos. Promove dura repressão à oposição, faz discursos incendiários contra os EUA e, pior ainda, se alia ao narcotráfico para semear o caos ao norte do rio Grande.
O colapso da moeda nacional, o peso, e a retirada dos investimentos estrangeiros terminam por gerar uma onda de pânico entre a população mexicana, "desesperada e faminta". "Durante a primavera de 2002", diz o livro, "milhões de mexicanos atravessam a fronteira e ingressam nos Estados Unidos. A imigração ilegal sempre foi um problema, mas, desta vez, trata-se de uma invasão maciça".
Washington sente que chegou aos limites de sua paciência e, um ano mais tarde, a intervenção militar se torna inevitável. Em apenas três dias as tropas norte-americanas obtêm a rendição do Exército mexicano e instalam no poder "um homem honesto", encarregado de restabelecer a democracia e a economia de mercado.
Qualquer semelhança com personagens ou acontecimentos reais está longe de ser coincidência... De fato, o México vive, há três anos, uma crise política e econômica profunda. O atual presidente, Ernesto Zedillo, é "um economista formado nos EUA", como Lorenzo Zapata, o personagem fictício criado por Weinberger para fins de demonstração de suas idéias.
Os cartéis mexicanos da droga encaminham aos EUA cerca de 60% dos entorpecentes consumidos em território norte-americano, segundo Washington.
Assim, o livro do ex-chefe do Pentágono está repleto de "pistas". O autor procura tranquilizar os mexicanos, declarando à imprensa que seu livro trata de simples "jogos de guerra", destinados a preparar as tropas americanas para qualquer eventualidade.
"Não há intenção nenhuma de ferir ninguém", insiste Weinberger. "Queremos apenas estar prontos a defender o México, se for preciso." É justamente isso que pode preocupar os mexicanos, que, em 1848, perderam metade de seu território na guerra contra os Estados Unidos, incluindo a Califórnia e o Texas.

Tradução de Clara Allain

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