São Paulo, domingo, 17 de novembro de 1996
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Ele, ela e o emprego

CLÓVIS ROSSI

São Paulo - É no mínimo curioso o fato de que, no enorme debate sobre a crise do emprego em todo o mundo, pouca gente se anime a falar do papel da mulher nessa história.
Vai ver que o pessoal tem medo de achar que, se tocar na ferida, será chamado de machista retrógrado, defensor da tese de que a mulher deve voltar ao tanque e ao fogão. Bobagem. Não há volta atrás nem é desejável que ela ocorra.
O problema é meramente aritmético e está claramente exposto em recente nota da OCDE (Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico), o clube dos 29 países supostamente mais industrializados:
"A proporção de homens adultos com emprego caiu (nos últimos 25 anos), enquanto houve forte aumento na taxa de emprego de mulheres adultas".
Dados de 12 países, comparando 1972 com 1995, põem números claros nessa constatação.
Na média, os homens de 15 a 24 anos empregados eram 60% em 72 e apenas 48,2% em 95. Na faixa masculina de 25 a 54, a porcentagem de empregados caiu de 94% para 87,5% no mesmo período. Nos mais velhos (55 a 64 anos), a mesma coisa: 77,2% estavam empregados em 72 e, hoje, apenas 60,6%.
No caso das mulheres, é o absoluto inverso, exceto na faixa mais jovem.
Na prática, o que aconteceu no último quarto de século, exatamente o período em que se instala a crise do emprego, é o seguinte: antes, havia uma pessoa só entrando no mercado de trabalho (um homem). Agora, há duas (um homem e uma mulher).
Logo, a economia teria que estar crescendo o dobro do que crescia há 25 anos, para poder criar o dobro de empregos. Mas a economia está crescendo menos do que crescia. Corolário inevitável: faltam postos de trabalho.
Se esse ponto não for trazido ao debate, corre-se o risco de satanizar o fenômeno errado (a tecnologia).
PS - A partir de amanhã, dou ao leitor duas semanas de férias.

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