São Paulo, segunda-feira, 18 de novembro de 1996
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Grupo Gerdau muda para atrair capital

MILTON GAMEZ
DA REPORTAGEM LOCAL

Aos 97 anos, o Grupo Gerdau, quinto maior produtor de aço bruto do país, está-se reestruturando e enterrando direitos arcaicos dos controladores para buscar novos sócios nas Bolsas de Valores.
O conglomerado está na fase final da reorganização societária, iniciada em janeiro de 1995, e partiu para um aumento de capital de R$ 160 milhões em suas três empresas cotadas em Bolsa.
A idéia é elevar em R$ 29 milhões o capital da empresa-mãe, a Metalúrgica Gerdau. Outros R$ 55 milhões serão captados para a Siderúrgica Riograndense e R$ 76 milhões reforçarão a Cosigua.
"Vamos usar o dinheiro para reduzir o endividamento, reforçar o capital de giro e extinguir o mecanismo que dá aos controladores o direito a 10% do lucro do grupo antes da distribuição de dividendos", explica Frederico Gerdau Johannpeter, vice-presidente.
Dízimo
O mecanismo a que ele se refere chama-se partes beneficiárias. Elas garantiam há décadas aos fundadores do grupo o "dízimo" sobre o lucro líquido (antes dos impostos). Este era reduzido em 10%, o que implicava menos dividendos para os demais acionistas.
Com as partes beneficiárias, a família Gerdau tinha sempre dinheiro suficiente para acompanhar as chamadas de capital e manter o controle das suas empresas. Agora, só contará com seus recursos próprios e com os dividendos normais sobre as ações que possui.
Normalmente, as empresas distribuem 30% do lucro líquido aos acionistas, proporcionalmente à participação de cada um no capital. Nas empresas Gerdau, o lucro era reduzido em 10% antes da distribuição de dividendos e, com isso, a base de remuneração dos acionistas minoritários caía para 27% do lucro líquido total.
Com a extinção das partes beneficiárias, a base de remuneração por dividendos subirá para 30%, num ganho automático de 11%. A decisão beneficiará 83 mil acionistas minoritários.
"Acabou a moleza. Agora, é viver de dividendos", diz Frederico Gerdau Johannpeter.
O fim desse mecanismo ultrapassado ajudará o Grupo Gerdau a melhorar sua imagem nas Bolsas e, no ano que vem, a buscar novos sócios no exterior, espera o empresário. A intenção é vender ações nos Estados Unidos, por meio de ADRs (recibos que permitem a negociação de papéis guardados no Brasil).
Pela renúncia à perpetuidade das partes beneficiárias, os atuais controladores receberão R$ 90,6 milhões. O dinheiro será usado simultaneamente na nova capitalização das empresas. Com isso, não afetará o caixa das companhias.
Atratividade
"O fim das partes beneficiárias aumentou a atratividade da empresa aos olhos dos futuros acionistas", diz Pedro Martins Júnior, analista do Banco Patrimônio.
Ele também elogia a reestruturação do Grupo Gerdau: as 21 companhias foram reduzidas a 12, as 33 fábricas diminuíram para 23 e o faturamento por empregado deve subir para R$ 188,5 mil anuais até o final deste ano -alta de 38% sobre o desempenho de 1994.
Este ano, a empresa acertou ao concentrar-se mais no mercado interno, reduzindo suas exportações. As vendas de aço para a construção civil cresceram e compensaram a queda das exportações, avalia o analista.
Até setembro, o lucro líquido do grupo atingiu R$ 70,4 milhões, valor 51,3% maior que o obtido em igual período de 1995. No ano passado, o lucro da corporação foi de R$ 57 milhões. Os números não consideram a inflação.
Nos primeiros nove meses deste ano, as empresas Gerdau produziram 2,6 milhões de toneladas de aço bruto (alta de 6,5%) e 2,3 milhões de toneladas de laminados (queda de 5,3%).
As vendas físicas totais somaram 2,4 milhões de toneladas e o faturamento alcançou R$ 1,680 bilhão até setembro, com alta de 17,1% sobre igual período de 1995.

E-mail: papeis@uol.com.br

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