São Paulo, segunda-feira, 18 de novembro de 1996
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Congressos no Sesc e na USP abordam museu do novo século

Eventos discutem a exibição de obras contemporâneas

KATIA CANTON
ESPECIAL PARA A FOLHA

A procura de novos espaços e funções para a arte na contemporaneidade torna-se o foco de dois importantes congressos internacionais em uma única semana, em São Paulo.
Começando um dia antes, de hoje a 21 de novembro, a USP realiza o Simpósio "Novas Tecnologias, Recursos Arquitetônicos e Cenográficos" sobre a recepção estética no museu contemporâneo.
O simpósio, que homenageia os 50 anos do Icom, órgão internacional de museus, vai questionar justamente a validade da instituição para a arte no novo século.
Para debater a situação atual dos museus no mundo foram convidados pensadores como o sociólogo e curador francês Jacques Leenhardt, da Sorbonne em Paris, o crítico Jean Marc Poinsot, do centro de história da arte contemporânea de Rennes, na França, o arquiteto italiano Gilberto Corretti, de Florença, e a crítica norte-americana Tonia Macneil, da Comissão de Arte de São Francisco, Califórnia.
Leenhardt, que inaugura a série de conferências hoje, às 10h30, no MAC Ibirapuera, é um dos maiores pensadores da cultura francesa atual.
Professor de ciências sociais da École de Hautes Études de Paris, Sorbonne, ele é um sociólogo da arte preocupado com a ligação entre museu e comunidade. Em entrevista exclusiva à Folha, ele antecipa sua palestra no simpósio.
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Folha - O sr. discute o conceito de exposição como um diferencial entre o museu tradicional e o contemporâneo. O que é isso?
Leenhardt - Eu pesquiso a recepção da obra de arte no museu. A noção de exposição é totalmente diferente no museu de arte tradicional e no museu contemporâneo, que eu proponho. Frente a uma obra no museu tradicional, você está à frente de uma peça sacralizada pelo espectro da instituição museológica. Essa postura se relaciona a uma cultura ultrapassada. Meu lema é explorar a participação do espectador com a obra de arte.
Folha - Como se dá isso?
Leenhardt - Há várias estratégias para promover essa participação, fundamental à noção de museu contemporâneo. Trabalho com o conceito de cenografia, que envolve um preparo do espaço museológico com luz e som, assim como com o que chamo de documentação atual. Trata-se de um agrupamento de materiais que estão fora da obra mas que se relacionam contextualmente com ela.
Folha - Outra vertente importante da museologia contemporânea defende o museu como um espaço que deve priorizar atividades pedagógicas. O que o sr. acha disso?
Leenhardt - Concordo apenas em parte. Na verdade essa discussão já dura uns 50 anos. Separam-se os museus de arte, cujo foco é a exposição da obra, e os museus educacionais, que realizam atividades. Respeito o conceito de museu de arte, que deve ser articulado com atividades pedagógicas, contanto que elas sejam criadas especificamente para a obra de arte.
Folha - Alguns críticos contemporâneos ligam a arte pós-moderna a uma crise generalizada que levaria ao fim da instituição museu de arte. O que o sr. acha disso?
Leenhardt - Respeito o espaço do museu como um espaço de reflexão necessária. Porém acredito na urgência de sua adaptação às mudanças na arte. O que temos a fazer é criar um museu que fale de perto às pessoas.

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