São Paulo, quinta-feira, 21 de novembro de 1996
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ONGs condenam testes com 1 droga

Voluntários estariam sendo prejudicados

DA REPORTAGEM LOCAL

Um protocolo de pesquisa do laboratório Merck Sharp vem colocando em lados opostos pesquisadores e entidades não-governamentais (ONGs). O estudo avalia a eficácia de três antivirais anti-Aids usados em combinação e/ou isoladamente.
A pesquisa foi iniciada no ano passado e envolve cerca de 900 pacientes em cinco centros de estudos em São Paulo e na Unicamp (Universidade Estadual de Campinas). Um dos três "braços" ou grupos da pesquisa está recebendo só uma droga, o Indinavir. Os voluntários não sabem qual ou quais medicamentos estão tomando.
Ontem, representantes de ONGs condenaram o protocolo alegando que o uso de um único remédio já se revelou menos eficaz que a associação de duas ou três drogas. Até junho passado, a pesquisa mantinha um "braço" do estudo tomando apenas o AZT.
"Um ano antes as pesquisas já mostravam que a monoterapia com AZT devia ser abandonada", disse Jorge Beloqui, do Grupo de Incentivo à Vida (GIV). Mário Scheffer, do Grupo Pela Vidda, disse que a pesquisa só admite mudança no tratamento quando o voluntário cai doente.
Os médicos pesquisadores afirmam que os voluntários estão recebendo total assistência e que continuarão a recebê-la mesmo se deixarem a pesquisa. "Fazemos uma investigação exaustiva diante de qualquer indício de infecção", disse Jamal Suleiman, um dos pesquisadores do Emílio Ribas.
Para tranquilizar os voluntários, tanto as ONGs quanto os pesquisadores recomendam que os pacientes procurem a orientação de seus médicos. O fato de a rede pública já estar oferecendo o "coquetel" pode levar alguns voluntários a abandonar o estudo.
"O protocolo de pesquisa foi aprovado por comissões de ética e é acompanhado por uma comissão internacional independente", disse David Uip, que coordena o estudo no Hospital das Clínicas.
Segundo ele, a pesquisa poderá revelar que um único medicamento tem efeito semelhante à combinação de três, o que custaria menos e traria menos efeitos colaterais para os pacientes.
Até que se descubra a melhor conduta, um dos grupos continuará recebendo uma medicação que não é a ideal.
A polêmica pode se encerrar já no próximo mês, quando a comissão internacional e independente de ética abrir o protocolo. Caso os resultados deixem claro, estatisticamente, que uma das combinações ou uma droga é a mais indicada, a pesquisa será encerrada.

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