São Paulo, quinta-feira, 21 de novembro de 1996
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FUTURO INCERTO

Durante a comemoração dos seus 50 anos, no ano passado, a Organização das Nações Unidas foi criticada inúmeras vezes por seus gastos, sua burocracia interna e pelos apenas modestos resultados alcançados com operações de paz em diversas partes do mundo. Liderada pelos EUA -que por sua vez devem à entidade US$ 1,5 bilhão-, a onda de críticas levantou perguntas sobre o papel que a ONU deve assumir hoje.
Tais questionamentos voltam à tona quando a entidade se prepara para escolher, até o fim do ano, seu novo secretário-geral. O atual ocupante do cargo, o egípcio Boutros Boutros-Ghali, rompendo uma tradição da ONU, não deverá ser indicado para um novo mandato de cinco anos. Apesar de único candidato declarado até agora, seu nome foi formalmente vetado pelos EUA.
A gestão de Boutros-Ghali foi marcada por insucessos embaraçosos em operações de paz, como na Somália, na Bósnia e em Ruanda. Limitada pelas características dos seus mandatos para atuar nesses países, a ONU geralmente passava a mera espectadora ou mesmo vítima dos conflitos. Em um claro sinal de fraqueza das operações de paz, um grande contingente de seus soldados tornou-se refém de forças sérvias na Bósnia, em maio do ano passado.
A escolha do novo secretário-geral deverá envolver uma queda de braços entre grandes potências. Se Boutros-Ghali não for realmente reconduzido a um segundo mandato, existe um consenso velado entre vários países de que seu substituto deveria ser um africano para compensar a saída de um egípcio.
Dentro do debate envolvendo seu ainda incerto futuro, a ONU deve sim comprometer-se com uma reformulação interna, mas é imperioso que mantenha-se independente diante das exigências unilaterais de seus membros, inclusive os EUA. A influência excessiva de qualquer país poderá desvirtuar os princípios que até hoje garantiram os 51 anos de existência da organização.

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