São Paulo, quinta-feira, 21 de novembro de 1996
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Tapem o nariz

VALDO CRUZ

Brasília - A capital do país está cheirando muito mal. Tudo por causa de uma emenda constitucional que poderá dar a Fernando Henrique Cardoso a chance de disputar um segundo mandato.
Pelos corredores do Congresso e restaurantes de Brasília, o que mais se ouvem são histórias de como usar a reeleição para dar uma mordida no governo FHC.
Um exemplo: pelo menos 16 parlamentares do Paraná, incluindo gente do PFL, PMDB e PTB, pretendem mandar um emissário na próxima semana ao Palácio do Planalto.
Objetivo: comunicar a FHC que todos, literalmente todos, vão votar contra o primeiro projeto do governo que entrar em votação. O primeiro, seja ele qual for. Não vão olhar nem o cabeçalho, vão digitar de olhos fechados "não". Para marcar posição, dizem.
Motivo: essa turma afirma que não está sendo valorizada pelo governo. Sem subterfúgios, os deputados pretendem dizer a FHC que não dá para apoiar a reeleição se são tratados como deputados de segunda categoria.
Uma grande chantagem. Bastará que o Planalto acene com um favorzinho para que eles mudem de posição.
A turma do Paraná não está sozinha. A famosa bancada ruralista diz que vai infernizar o sonho da reeleição caso o governo insista na medida provisória que reformulou o ITR (Imposto Territorial Rural).
E tem ainda o pessoal contrário à privatização da Vale, liderado pelo senador José Sarney (PMDB-AP).
Do Palácio do Planalto, FHC garante que não vai barganhar nada.
Talvez até seja esse o desejo do presidente tucano. Mas ele não terá outra saída, se realmente quiser aprovar a emenda da reeleição.
Afinal, são parlamentares do tipo dos paranaenses, ruralistas e pró-Vale que vão decidir se FHC terá ou não direito de disputar um novo mandato.
A temporada de caça começou. Bem mais cedo do que imaginava o governo tucano. Tapem o nariz.

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