São Paulo, domingo, 24 de novembro de 1996
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Quero mais do que esse torneiozinho pífio

ALBERTO HELENA JR.
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

Outro dia, ouço na TV o locutor louvando a fórmula do campeonato que, neste instante, provoca dois níveis de emoções: os que torcem para seu time entrar na próxima fase, e os que se retorcem para não cair. E arrematava perguntando ao telespectador: "Quer mais que isso?".
Respondo: quero, sim, meu filho. Quero e exijo muito mais do que esse pífio torneiozinho, que, mesmo neste curto e decisivo período de classificação, não consegue empolgar nem mesmo 10 mil torcedores por partida (na última rodada, somando-se os jogos do Botafogo e do Santos, campeão e vice do Brasil, não chegamos a mil espectadores, platéia de qualquer camelô mais esperto da avenida Paulista).
Que a ordem da emissora seja animar um pouco essa triste disputa, compreende-se, embora não seja essa a função do jornalista que preze seu ofício.
Mas não é preciso chegar ao ultraje de chamar-nos a todos, telespectadores e amantes do futebol, de idiotas.
*
A propósito de locutores e comentaristas de TV e rádio, uma perguntinha à esmagadora maioria: diga-me lá, nesse ritmo vertiginoso que lhe é característico, qual o nome daquele ator belga que distribui porrada pra todo lado nas telas de cinema? Jean-Claude van Damme, né? Repita: Jean... Pare! Repita: Jean (pronuncia-se Jân).
Pois bem: então por que cargas d'água os nossos Jeans (Jâns) que povoam os gramados de futebol viraram Je-an?
Como diria o Robin do velho seriado da TV: "Ah, Santa Ignorância!"
*
E o São Paulo conseguiu, ao menos, entalar-se no gargalo. Hoje, decide-se se será ou não expelido de vez do campeonato.
O irônico é que, para seguir em frente, depende de seu mais figadal (de fígado, gente) inimigo dos últimos tempos -o Palmeiras, que, com seu time reserva, não pode perder para o Sport.
Isso, claro, se o tricolor conseguir passar pelo Paraná, lá em Curitiba, exatamente no momento em que o técnico Rubens Minelli consegue dar ao seu time um padrão de jogo decente.
Haja fígado para segregar tanta bílis.
*
O Corinthians, levado à humilhante desclassificação pela incúria de sua diretoria, agora corre sério risco de perder Marcelinho por toda uma temporada. Sim, porque as imagens da TV são claras demais: o jogador agrediu, sim, o juiz, por duas vezes -na primeira, deu-lhe um leve trança-pé; tomou o cartão amarelo; não satisfeito, desferiu um safanão no ombro do árbitro; tomou o vermelho.
Em seguida, foi aos jornais e disse que juiz de futebol é muito autoritário, pensa que é o todo-poderoso no campo.
Pior que é, meu caro Marcelinho. O juiz é mesmo todo-poderoso, investido de tal poder pela própria lei do jogo. É ele quem manda prender e soltar.
É onisciente e tem de ser onipresente, sim senhor. Pelo menos, enquanto não mudarem as leis do futebol.
Marcelinho terá aí uns bons meses para refletir a respeito, vendo pela TV seus companheiros tentando em campo resgatar o prestígio do Corinthians jogado na lata de lixo.

Texto Anterior: Paulistas lutam por sobrevivência
Próximo Texto: Melhores do universo
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.