São Paulo, domingo, 24 de novembro de 1996
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Hora de entender os sinais

CARLOS HEITOR CONY

Natal - Há um marco assinalando o domínio dos portugueses sobre aquilo que mais tarde seria chamado de Brasil. Quem fincou esse marco em terras tão promissoras não foi um português, mas um florentino, Americo Vespucio, parece que em 1501.
Curioso o destino de ambos, o marco e seu fincador. Vespucio acabaria fazendo o que somente os deuses gregos conseguiram: dar nome a um continente. Europa foi conquistada por Zeus, que tomou a forma de touro -ele gostava de fazer essas coisas. Seria hoje um bom transformista de boate. Foi touro para possuir Europa e chuva para possuir Danae.
Mais modesto, Americo Vespucio não precisou ter tanto trabalho para dar nome a dois continentes. Tirou o pão da boca de Colombo, de Cabral, de Magalhães -que acabou batizando um mísero estreito. Salvou-se o grande Vasco da Gama, que conseguiu dar nome a um time de futebol.
Mas o assunto é o marco em si, um pedaço de boa pedra portuguesa onde mão competente gravou uma cruz de malta. Não havia certeza sobre o tamanho da enorme ilha que haviam descoberto. Numa das expedições, ao contornar a região onde fica Natal, Americo Vespucio achou que já era bastante terra e dela tomou posse em nome do rei de Portugal.
Esse marco é hoje um orgulho e um problema para os nascidos aqui. Andou em vários lugares, foi tirado e colocado uma centena de vezes. O povão, sem saber o que era quilo, e vendo a cruz de malta nele gravada, sem ter um Paulo Coelho que lhe explicasse aqueles sinais, tomou o marco como peça sagrada, raspava pedra e com ela fazia um chá que curava doenças.
A reparação está a caminho. Entidades locais já levantaram o sítio exato onde Vespucio cravou o marco. Ele será recolocado e promovido a atração histórica e turística. Acho que, a partir dessa reparação, as coisas podem melhorar não apenas para Natal, mas para todo o Brasil. É preciso entender os sinais.

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