São Paulo, domingo, 24 de novembro de 1996
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Noitada "aldente"

DEBORAH GIANINI; GABRIELA MICHELOTTI; TOMAZ AUTRAN

O restaurante Pasta & Vino faz sucesso na noite paulistana como uma das raras opções de massa 24 horas
Para os paladares notívagos mais exigentes, que não se contentam com lojas de conveniência, o Pasta & Vino é um verdadeiro oásis. Conhecido pelos fregueses antigos como "Bar do Pedrão", em referência a um de seus donos, chama a atenção não só pela massa, que é exclusiva, mas também pelas figurinhas que circulam pelo local.
Artistas, publicitários, empresários, jornalistas boêmios, músicos, insones, advogados vizinhos e belas mulheres aparecem por lá a qualquer hora do dia e da noite. Todos com o mesmo intento: comer bem e sem preocupações com horário.
Há doze anos, os irmãos Pedro e José Antônio Trombetti abriram seu restaurante. Era um lugar miúdo na rua da Consolação, mas que contava com clientes assíduos.
Com o sucesso do restaurante, ele mudou-se para a rua Barão de Capanema, nos Jardins. Originalmente, os Trombetti não pensavam em abrir um restaurante 24 horas. Mas, enquanto a casa estava sendo reformada resolveram mantê-la aberta em tempo integral, para evitar assaltos.
Quando as obras ficaram prontas, não teve jeito: por imposição dos clientes, que já tinham se acostumado com o restaurante que nunca fechava, o Pasta & Vino teve de manter as portas abertas 24 horas por dia, sete dias por semana.
Muitos fregueses antigos do Pasta & Vino reclamam das novas instalações do restaurante. Os mais fiéis preferiam o local antigo, na Consolação, com poucas mesas e mais intimista. Nas palavras da estudante Ana Paula Pollini, o Pasta & Vino agora está muito "Jardins".
Apesar das reclamações, eles não conseguem ficar longe do Pasta & Vino por muito tempo. "Venho aqui quatro vezes por semana. À noite, trago namorado, sogra. Às vezes, almoço e janto aqui no mesmo dia", diz a estudante Elisa Guazzelli.
A Revista da Folha passou 24 horas no Pasta & Vino para entender melhor o porquê do sucesso do restaurante. Eis o nosso relato de um dia típico no "Bar do Pedrão".
(Deborah Giannini, Gabriela Michelotti e Tomaz Autran)

O Pasto & Vino (acima) no auge do movimento, que só vai acalmar um pouco depois das 4h.

0h - A maquiadora Lutécia Pompeu, 34, comemorou seu aniversário no Pasta pela décima vez consecutiva. Quando era madrinha do time de futebol do Pasta, que "só tinha perna de pau", levou uma bolada na barriga e terminou a noite no hospital.

1h45 - A modelo Sandra Bodick, 28, adora ficar até a alta madrugada no Pasta. "Nas quartas, o pessoal está saindo às seis da manhã e os feirantes já estão armando suas barracas, os pássaros cantando."

3h - O cineasta Mauro Lima, 30, é figurinha carimbada no "Bar do Pedrão". "Venho aqui até sozinho porque sei que sempre haverá uma turma."

À esq. os campeões da casa: Penne al Basilico é a massa mais pedida. O vinho é o Bolla Valpolicella

3h30 - Cozinheiros (abaixo) aproveitam um momento de sossego entre pedidos.

4h15 - Dorival Pereira da Cruz, 29, é o garçom preferido de nove entre dez clientes do Pasta. "O segredo do meu sucesso é tratar todos os fregueses igualmente, sem preferências. Não trabalharia em outro lugar nem se ganhasse mais", afirma.

6h - Karin Stempel, 44, é alemã e curadora de arte. Ela está no Brasil há quatro meses em função da 23ª Bienal Internacional de São Paulo e passou a frequentar o Pasta porque sofre de insônia. "Sou muito bem atendida aqui", diz Karin, que passou a madrugada inteira fazendo anotações em alemão nos papéis toalha da mesa.

8h - Cadeiras suspensas sobre as mesas, na hora da faxina.
Crostini al Pasto, o antipasto mais requisitado do restaurante.

11h20 - Os garçons Daniel, Israel e Benedito almoçam picadinho de carne com arroz e salada

13h - As sete meninas vieram de um escritório de advocacia, vizinho ao bar. Renata Marques, 23, Elisa Guazzelli, 22, Maria Emília Lopes, 20, Carmem Silvia Godoi, 21, Carolina Maciel, 23, Paola Carrara, 23, e Maria Carolina Pacileo, 22. Segundo elas, o lugar é propício para encontrar amigos e trazer namorados.

15h35 - Quando os amigos não o encontram, o procuram no "Bar do Pedrão". "Quanto menos bebida tem em casa, mais tempo passo aqui". Habib Takla, 47, guitarrista da banda "Os Fenícios", já foi três vezes para o bar na mesma noite. "Em vez de ficar torrando em casa, prefiro ficar nesse terraço, bom para o verão".

17h - Hora de renovar os estoques, preparar as mesas e deixar tudo pronto para a invasão do jantar -que não tem hora para acabar. Raimundo Mato reabastece com pães.

23h - Ana Paula Pollini, Sofia Kosma, Vinícius Augusto Barbosa e Alberto Matta frequentavam ainda na Consolação. "Tinha mais cara de cantina". afirma Ana.

23h30 - O Pasta & Vino no auge do movimento, que só vai acalmar um pouco depois das 4hs.

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