São Paulo, quinta-feira, 28 de novembro de 1996
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Debater reeleição pode ser mortal, diz Ciro

DANIEL BRAMATTI
DENISE MADUEÑO

DANIEL BRAMATTI; DENISE MADUEÑO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Ex-governador cearense diz que votaria em Itamar para sucessor de FHC se ele estivesse filiado ao PSDB

O ex-ministro da Fazenda Ciro Gomes disse ontem que o debate sobre a reeleição pode ser "mortal" para o país. Ele criticou o governo Fernando Henrique Cardoso e disse que votaria no ex-presidente Itamar Franco se ele estivesse no seu partido.
As afirmações foram feitas na comissão especial que analisa a emenda que possibilita a disputa da reeleição por FHC. Ciro se declarou "absoluta, clara e militantemente" contra a proposta.
Para o ex-ministro, a discussão sobre a emenda trouxe o caos. "A introdução desse tema é uma digressão que pode custar um preço impagável para o Brasil e para o governo Fernando Henrique."
Os prejuízos seriam decorrentes da "falta de um projeto nacional". "A cada dia o país fica mais vulnerável a um ataque especulativo de natureza cambial", afirmou.
Cobrado pelos tucanos sobre sua posição contrária à reeleição, Ciro respondeu que o tema não consta do programa do partido nem foi discutido pelos dirigentes. "A conduta dos principais quadros foi contrária sempre que a questão foi colocada."
O ex-governador insinuou que a proposta atende apenas aos interesses do Palácio do Planalto e dos grupos que estão no poder. "Há um apetite (pelo poder) que não é criminoso, mas é impertinente."
Ele considerou ainda eticamente condenável o fato de um grupo que está no poder promover mudança nas regras do jogo de forma a ser favorecido.
"Acho odiosa essa propaganda oficial que acusa de agir por conveniência os que estão contra a reeleição. Quem tem de ter vergonha é quem está a favor. Estou contra a vontade do rei e não tenho medo de ser avaliado."
Entre os adversários da reeleição que poderiam estar agindo "por conveniência", como acusam os governistas, Ciro citou o prefeito Paulo Maluf (São Paulo) e o presidente do Congresso, José Sarney (PMDB-AP) -ambos encarados como prováveis candidatos.
Excluiu da lista, porém, o ex-presidente Itamar Franco. "Esse homem merece ser defendido. É um homem de bem, que tem uma posição conceitual e antiga contra a reeleição."
Para Ciro, Itamar é o candidato ideal à sucessão de FHC. "Se Itamar estivesse em meu partido, votaria nele", afirmou.
O ex-ministro, porém, ressaltou que só não votará com o PSDB se algo violar seus "princípios fundamentais". Nesse caso, ele deixaria o partido.
A aprovação da emenda da reeleição, segundo Ciro, não seria motivo suficiente para o rompimento.
O outro depoente do dia, o ex-presidente da Ordem dos Advogados do Brasil José Roberto Batochio, também condenou a emenda. Para ele, sua aprovação permitiria a "institucionalização das oligarquias" no poder. "Essa idéia não é bem-vinda pelos que pensam democraticamente".

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