São Paulo, quinta-feira, 28 de novembro de 1996
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FHC propõe bloco de países remediados

GABRIELA WOLTHERS
ENVIADA ESPECIAL À ÁFRICA DO SUL

O presidente Fernando Henrique Cardoso propôs ontem à África do Sul que os países em desenvolvimento formem um bloco próprio, como ocorre hoje com o chamado G-7, composto pelos países mais ricos do mundo.
"Os países ricos têm o G-7. Nós não somos tão ricos, mas também não somos tão pobres. Por que não organizar outras formas de diálogo?", perguntou FHC.
O G-7 é formado por Estados Unidos, Japão, Alemanha, Reino Unido, Canadá, Itália e França.
Segundo FHC, o novo bloco, além da questão propriamente comercial, atuaria na discussão de temas como a consolidação da democracia e transformações sociais -"como preencher as lacunas das desigualdades sociais".
FHC expôs suas idéias durante almoço no Sandton Sun Convention Center, oferecido pelo jornal sul-africano "The Star".
Poder
Apesar de não citar explicitamente os Estados Unidos, o presidente disse que o "colapso" da ex-União Soviética fez com que "um só país" acabasse concentrando uma grande gama de poder, o que, segundo ele, não é uma boa saída para o mundo.
"Não acho que o monopólio do poder seja bom para o mundo, é impossível só um país tomar conta do mundo inteiro", afirmou.
Para ele, Brasil e África do Sul têm de discutir opções, "cooperar para trazer novas idéias de atuação na ordem internacional".
"Temos de reorganizar tomada de decisões do sistema político internacional", disse.
"Não basta apenas participar do Conselho de Segurança da ONU (Organização das Nações Unidas)."
O presidente afirmou que o Mercosul é um bom exemplo de como a integração entre países pode trazer resultados a curto prazo.
"Nós já multiplicamos por cinco o comércio com a Argentina no período de 1990 a 1995", disse.
"Brasil e África do Sul têm experiências complementares, e esse é um bom momento para o diálogo político, para tratar da distribuição de poder no mundo", completou o presidente.
Em Angola, país que visitou antes da viagem à África do Sul, FHC já havia dito que é necessário haver maior integração entre o Mercosul e a SADC (Comunidade de Desenvolvimento da África Austral), bloco comercial composto por 12 países do sul da África -entre eles África do Sul, Angola, Moçambique, Tanzânia, Botsuana, Zâmbia e Namíbia.
Seminário
Ontem, depois do almoço, FHC participou do seminário "Globalização e Política Internacional", na Universidade de Witwatersrand, no qual voltou a frisar a importância de uma união maior entre os dois mercados.
"Tratemos de criar um quadro normativo que propicie uma expansão dos fluxos comerciais entre o sul da África e o Cone Sul", disse FHC.
"Tratemos de dar vida e expressão concreta ao imenso potencial existente entre nosso países. Isso reforçará nossas credenciais para que possamos nos inserir de maneira bem-sucedida na economia internacional."

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