São Paulo, quinta-feira, 28 de novembro de 1996
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Voz é trunfo de Zélia Duncan em 'Intimidade'

PEDRO ALEXANDRE SANCHES
DA REDAÇÃO

A cantora e compositora Zélia Duncan inicia hoje no Tom Brasil a última semana da temporada de lançamento do CD "Intimidade". É show montado para não permitir dúvidas: a voz de timbre personal, sempre inclinado ao registro grave, é a maior das virtudes de Zélia.
Assim, ela abre o show cantando "Primeiro Susto" à capela e já avisando: não haverá brecha para desafinação.
Segura da voz, lança ao público outros de seus traquejos. O domínio de palco se insinua enquanto insere o rock'n'roll no repertório, em "Bom pra Você" e "Minha Fé".
Nisso lhe vem em auxílio Bete Coelho, responsável pela direção do show. Atriz e diretora de teatro, Bete adiciona elementos inéditos em shows de Zélia.
O cenário é complexo, tomado de gavetas abarrotadas -referência à intimidade do título, mas também ao inconsciente à Salvador Dalí-, gelo seco e cortinas transparentes à Gerald Thomas, luz esfuziante, mesa e cadeira remetendo de longe a "Rancor", peça de que Bete foi protagonista há alguns anos.
No confronto entre música e direção teatral, estabelece-se relação mista de conflito e troca de figurinhas entre as duas mulheres. O show se esboça do predomínio ora de uma, ora de outra.
Bete Coelho assume controle no bloco de canções de outros autores, com "Lá Vou Eu" (75), de Rita Lee (que Zélia já gravou) e "Quase sem Querer" (86), da Legião Urbana.
O segmento dedicado a Chico Buarque funde "Fortaleza" e "Tira as Mãos de Mim", temas da peça "Calabar" (73). Intervenção evidente de Bete Coelho.
Zélia também tem seu momento de hegemonia: pensa música ao sequenciar "Transas de Amor" (79), de Marina Lima, e "Vou Tirar Você do Dicionário" (93), de Itamar Assumpção, colocando lado a lado os dois mais interessantes artistas pop brasileiros dos 80.
Faz de "Transas de Amor" ponto máximo do show, devolvendo recente versão de Marina para sua "Tempestade".
A criação comunica-se com a própria "Tempestade", que Zélia traz ao show em versão pós-Marina. À canção, adere como apêndice outra peça de Chico Buarque, "Estação Derradeira" (87). Mas o tributo não é a Chico, mas a Cida Moreyra -que gravou bela releitura dessa canção em 93-, com quem Zélia cantou pelo Brasil em tempos passados, antes da fama.
Para deleite dos fãs mais fanáticos -aqueles que perturbam o show com histéricos gritos de "vitaminada!", como se música fosse questão de vitamina- ela canta no bis o hit "Catedral", agora quase todo em inglês. Todo mundo sai feliz.

Show: Zélia Duncan
Onde: Tom Brasil (r. das Olimpíadas, 66, Vila Olímpia, tel. 011/820-2326)
Quando: hoje, às 21h30, sex e sáb, às 22h, e dom, às 20h
Quanto: R$ 20 a R$ 45

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