São Paulo, quinta-feira, 28 de novembro de 1996
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A ESCASSEZ DO ESSENCIAL

Depois da fracassada operação do Ministério da Saúde na compra de vacinas tríplice -deveriam ter sido entregues em junho deste ano por um laboratório chinês, que não cumpriu os prazos-, a população, principalmente a carente, está sendo perigosamente prejudicada pelos efeitos danosos de uma aquisição malsucedida. Novos lotes foram importados de outros fornecedores, mas ainda não estão aprovados para uso.
Em São Paulo, onde a distribuição da tríplice pelo poder público, com lotes oriundos de importações anteriores, foi interrompida depois que duas crianças recém-vacinadas tiveram convulsões, apenas clínicas particulares possuem a vacina, adquirida por elas junto a diferentes fornecedores. Cada dose é vendida por R$ 30, quantia que a maioria da população dependente do serviço público de saúde não tem condições de pagar.
Em algumas clínicas paulistas consultadas por esta Folha, a procura pela tríplice aumentou cerca de 100% devido à falta da vacina nos postos de saúde públicos. Muitas delas não têm um estoque suficiente para atender a uma grande demanda e teriam condições de manter a distribuição apenas por mais duas ou três semanas. Se o fornecimento pelo governo federal não for normalizado em pouco tempo, mesmo os que podem pagar pela vacina provavelmente não vão conseguir mais encontrá-la.
O quadro é de completo desrespeito com a população, caracterizado por uma inversão de conceitos. O que é essencial é transformado em um bem escasso, um privilégio ainda precariamente acessível apenas aos que podem pagar, além de vasculhar o mercado à sua procura. Que o governo federal tenha consciência dos riscos que está impondo à sociedade devido à sua incompetência em realizar uma função relativamente simples: a compra e a distribuição correta de vacinas de boa qualidade.

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