São Paulo, sábado, 30 de novembro de 1996
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O mata-mata puniu as melhores campanhas

MATINAS SUZUKI JR.
EDITOR-EXECUTIVO

Meus amigos, meus inimigos, nada contra, evidentemente, as vitórias de Goiás, Portuguesa, Atlético Mineiro e Grêmio (todas, aliás, de tripleta, uma boa coincidência para quem gosta de numerologia).
Mas a vitória dos times que jogaram em casa mostra com clareza um dos efeitos perversos do sistema mata-mata.
Jogar na própria cidade torna-se uma vantagem imensurável: o adversário forasteiro joga não só contra os locais, mas contra tudo e todos.
E o tudo e os todos influem decisivamente durante uma partida. É falso chamá-los de condicionantes extracampo.
O fator psicológico, em jogos decisivos, é tão ou talvez até mais importante do que os fatores técnicos ou táticos.
Um jogador fora de controle emocional não atinge os limites da sua potencialidade, desorganiza taticamente e pode gerar fatos negativos para o time (ser expulso, criar confusão, perder um pênalti etc.).
Tudo isso ocorre também em um campeonato de pontos corridos, no qual times jogam dentro e fora de casa.
Mas, aqui, diferentemente do sistema mata-mata, o time tem um campeonato inteiro para se equilibrar e neutralizar, com a sua técnica, as baixas das partidas mais importantes fora de casa.
O mesmo não ocorre no sistema mata-mata, no qual o peso específico dos fatores psicológicos e de pressão crescem e passam a neutralizar os valores técnicos e táticos.
Jogadores medianos, com mais resistência emocional (e, consequentemente, menos vulneráveis ao estresse físico gerado pela pressão psicológica), não raro, equivalem-se ou superam os jogadores mais habilidosos nessas ocasiões.
No futebol, todas essas variáveis estão em jogo. Mas, em um campeonato de média ou longa duração, a tendência é o melhor futebol sair recompensado. Já no mata-mata, o poder de pressão supera as habilidades futebolísticas.
Além disso, a mídia em geral, sobretudo a televisão, procura ampliar e exaltar o clima de guerra, a batalha, a vida ou a morte, a revanche, o vale tudo, além de apelar para sentimentos mais primitivos como o bairrismo, por exemplo, para inflar artificialmente a dramaticidade de uma partida.
Veja bem, não estou criticando nenhum time em particular (a Portuguesa, por exemplo, nem sequer teve torcedores para lotar o Morumbi).
Estou analisando a inadequação do sistema mata-mata para um campeonato importante como o Brasileiro.
Inadequação que fica mais patente quando se vê que os três primeiros colocados (Cruzeiro, Guarani e Palmeiras), ao longo de 23 rodadas da primeira fase do torneio, são justamente os que entram em campo este fim-de-semana com a obrigação de correr atrás de um baita prejuízo.
*
A tentativa de exumar o cadáver do antigo Rio-São Paulo é imediatista e inoportuna.
Não restou ninguém bem-intencionado. Só a falência salvará o que resta do futebol por aqui. Vamos torcer por ela.

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