São Paulo, sábado, 30 de novembro de 1996
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Vera Fischer volta ao cinema e ao teatro

ERIKA SALLUM
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Aos 45 anos de idade, completados na última quarta-feira, Vera Fischer está de bem com a vida.
Depois de enfrentar uma série de problemas pessoais -foi acusada de agredir a babá de seu filho e se internou em uma clínica para tratamento de desintoxicação-, a atriz se refez dos traumas e se prepara para seu mais novo desafio.
Em janeiro, começam as filmagens de "Navalha na Carne", adaptação dirigida por Neville d'Almeida de peça homônima de Plínio Marcos.
Será o primeiro papel de prostituta de sua carreira.
"A minha Neuza Sueli (nome da personagem) vai ser diferente. Não quero vestidos vermelhos nem cair em estereótipos. Ela terá um pouco de mim mesma", disse em entrevista à Folha em Búzios, onde participa, como convidada especial, do 3º Búzios Cine Festival, mostra de cinema que termina hoje na cidade.
Com um sensual vestido preto, contou que, completando o elenco, estarão Guilherme Karan e, se aceitar o convite, o ator cubano Jorge Perrugoria, dos filmes "Morango e Chocolate" e "Guantanamera".
Além desse projeto, Vera estuda sua participação no longa-metragem "Vestido de Noiva", de Nelson Rodrigues. O filme será dirigido por Jofre Rodrigues, filho do dramaturgo.
"Estou bastante empolgada porque o Nelson e o Plínio Marcos são os maiores teatrólogos do Brasil", afirma.
Também em 1997, a atriz vai produzir e atuar em uma nova produção do diretor teatral mineiro Gabriel Villela.
O convite para trabalharem juntos partiu dela. "O teatro do Gabriel é colorido, vivo, meio gótico, se parece comigo. Além disso, somos dois vulcões por dentro", diz a atriz.
Para poder chegar a interpretar grandes dramaturgos, Vera conta que teve de enfrentar uma dura caminhada.
"Aos 20 anos, eu possuía todos os predicados desfavoráveis para uma atriz: era miss, loira (logo, achavam que era burra) e tinha feito pornochanchadas."
Mas o tempo a fez amadurecer. Segundo ela, para que mudasse, foi preciso um longo exercício de dedicação em que se voltou para si mesma. "Eu queria vencer", acrescenta.
Hoje, mais madura e "com uma bagagem suficiente de experiências e cultura", Vera diz que conseguiu se soltar.
Segura de si, revela que toda essa conquista é fruto de seu próprio trabalho. "Nunca fui prostituta nem precisei transar com ninguém para conseguir o que queria", afirma ela.
Diz que se está com vontade de se vestir de indiana durante a tarde e, à noite, colocar uma roupa preta, o problema é só dela.
"Eu pago as minhas contas e ninguém vai me dizer o que fazer."
Profundamente bela, afirma que, atualmente, o melhor caminho para viver é optar por falar a verdade.
"A imprensa pensa que está conseguindo invadir minha privacidade. A verdade é muito mais interessante do que isso."
Há cerca de um ano, uma câmera indiscreta a fotografou saindo de casa com o braço aparentemente quebrado, tendo como tipóia um colar de pérolas.
Em meio a versões de que a fratura teria sido causada durante uma briga com o ex-marido, o ator Felipe Camargo, a foto foi publicada em diversos jornais e revistas nacionais.
"Quando me vi naquela fotografia, pensei: 'Vera, como tu é debochada'. Sair desse jeito na rua...", comenta hoje, dando risada.
Fazendo ressalvas de que, ao contrário do que dizem, nunca tentou se matar nem é deprimida, define-se como uma "apaixonada pela vida". "Se não fosse por isso, eu já estava jogada debaixo do tapete."

A jornalista Erika Sallum e o fotógrafo Otávio Dias de Oliveira viajam a convite da organização do festival.

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