São Paulo, sábado, 30 de novembro de 1996
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Acaba greve de caminhoneiros na França

BETINA BERNARDES
DE PARIS

A greve de caminhoneiros na França chegou ao fim ontem, após 12 dias de bloqueios que paralisaram as estradas e afetaram a atividade econômica do país.
As barreiras de caminhões começaram a ser desfeitas à tarde, após o anúncio da assinatura de cinco protocolos entre representantes das partes envolvidas.
Os caminhoneiros conseguiram ver atendidas suas principais reivindicações: aposentadoria aos 55 anos (em vez de aos 60), proibição de circular aos domingos, carência em caso de doença, pagamento de despesas de deslocamento e direitos sindicais (leia texto abaixo).
Eles vão receber gratificação do equivalente a US$ 600 em vez do aumento de 1% no salário, inicialmente proposto pelo patronato.
A jornada de trabalho será regulamentada por meio de um decreto a ser assinado pelo governo até o próximo dia 15 de dezembro.
Maratona
Ao todo, foram 85 horas de negociações entre caminhoneiros, empresários do setor de transporte e o mediador indicado pelo governo, Robert Cros.
As discussões chegaram a ser suspensas na madrugada de anteontem. As partes envolvidas não conseguiam chegar a um acordo sobre salários e jornada.
Ontem, o governo aumentou a pressão. Não queria enfrentar um fim-de-semana com estradas completamente paralisadas.
Antes da assinatura dos protocolos, as negociações sobre os pontos pendentes foram retomadas.
"Estou feliz que os esforços empregados por todas as partes para negociar tenham resultado em sucesso", disse o primeiro-ministro francês, Alain Juppé.
Os bloqueios foram desfeitos gradualmente. Às 12h (9h de Brasília), havia cerca de 220. Às 20h30 (17h30 de Brasília), eram apenas 22. Algumas barreiras devem ser levantadas apenas hoje.
Prejuízos
A paralisação chegou a provocar "desemprego técnico" em algumas empresas, como a automobilística Renault. Como as peças não chegavam às montadoras, os empregados foram dispensados.
Governos de outros países, como o Reino Unido e a Espanha, protestaram formalmente junto à França e pediram indenizações para as pessoas e empresas que tiveram prejuízo com os caminhões retidos no território francês.
O principal problema que atingiu a população francesa foi a falta de combustível. O alvo principal das barreiras foram as refinarias e depósitos de gasolina.
Cerca de 50 dos 100 Departamentos em que a França é dividida adotaram racionamento.
Ontem, 10 mil dos 18 mil postos de gasolina do país estavam com suas reservas no limite.
Segundo Michel Henock, presidente do Conselho Nacional de Atividades Automobilísticas, ainda será preciso um tempo para reabastecer todos os postos.
"Se todas as barreiras forem retiradas nesta noite (ontem), precisaremos de uma semana para normalizar a situação", afirmou.
Lembranças de 95
Essa foi a maior greve na França desde as paralisações de novembro e dezembro do ano passado.
A greve dos caminhoneiros recebeu o apoio de 74% da população, segundo pesquisas de opinião.
O governo, com sua popularidade em baixa (o presidente Jacques Chirac é aprovado por 27% dos franceses, e Juppé, por 20%), temia o alargamento do movimento a outras categorias, como desejavam alguns líderes sindicais.
Ferroviários do norte do país pararam por 24 horas. Aeronautas fizeram greve de 48 horas.

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