São Paulo, segunda-feira, 2 de dezembro de 1996
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Agrotóxico suspeito é utilizado pelos produtores de morango

Análises revelam uso de produto não autorizado

BRUNO BLECHER
EDITOR DO AGROFOLHA

O methamidophos, agrotóxico do grupo dos organofosforados que está sendo associado ao alto índice de suicídios nas lavouras de fumo do país, também é utilizado, ilegalmente, por produtores de morango de São Paulo.
Pesquisa do Instituto Biológico de São Paulo constatou que 58,3% das amostras de morango analisadas entre 1978 e 1995 continham resíduos de agrotóxicos.
Dessas, 19,4% apresentavam resíduos de produtos não autorizados para a cultura, como o methamidophos, endosulfan, chlorothalonil, dicofol e tetradion.
Esses produtos não foram registrados pelos fabricantes nos ministérios da Agricultura e da Saúde para serem utilizados na cultura de morango. Estão, portanto, sendo aplicados ilegalmente.
O número de amostras com resíduos acima do limite permitido, porém, foi de apenas 2,5%.
O agrônomo Sebastião Pinheiro, do Ibama (Instituto Brasileiro de Recursos Naturais Renováveis), diz que a porcentagem de resíduos de produtos não permitidos, encontrada nas amostras de morango, é elevada.
"Um dos produtos apontados pelas análises, endosulfan (organoclorado), foi banido do país em 85 e retornou para ser utilizado de forma emergencial nas culturas de café, coco, trigo e soja."
Produto banido
"Esse produto deveria estar proibido. É um clorado, que persiste mais tempo no meio ambiente e pode se acumular no organismo humano", diz Anthony Wong, toxicologista do Hospital das Clínicas de São Paulo.
Wong lembra que o morango é uma fruta muito consumida por crianças, que têm menor tolerância aos efeitos dos agrotóxicos.
"O morango é um produto delicado e complicado para lavar. Muitas vezes, é comercializado sem que o prazo de carência do veneno seja respeitado."
Marilene da Silva Ferreira, chefe da seção de resíduos do Instituto Biológico, afirma que as pesquisas realizadas para determinação da dose diária aceitável de um agrotóxico leva em consideração uma pessoa adulta com 60 quilos.
"Não se tem idéia da dose aceitável para uma criança."
Flávio Zambrone, médico toxicologista da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), considera "um crime" o uso de agrotóxicos não permitidos.
Ele, porém, diz que o endolsufan não traz muitos riscos à saúde de quem consome o alimento, desde que utilizado em doses adequadas na lavoura.
"Mas nos casos de intoxicação, provoca alteração no sistema nervoso central. O tratamento é mais difícil do que o dos organofosforados, pois não possui antídoto."

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