São Paulo, segunda-feira, 2 de dezembro de 1996
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Mauro Rasi aproveita sua melhor fase

DANIELA ROCHA
DA REPORTAGEM LOCAL

O autor, diretor e produtor teatral Mauro Rasi é o centro das atenções da cultura carioca.
Apesar de ter sofrido na última semana ameaça de ser processado por plágio pela família de Vicente Pereira (leia texto ao lado), ele vive os frutos da boa fase deste ano e já trabalha a todo vapor para brilhar também em 97.
Rasi tem peças suas lotando duas salas de teatro no Rio e uma em SP, vai ganhar uma "Terça Nobre" por mês na Globo e teve seus textos vendidos para a Argentina.
"As Tias do Mauro Rasi", há seis meses em cartaz no Rio, e "A Dama do Cerrado", que estreou há um mês, estão com ingressos vendidos até o Natal.
As mesmas personagens tias do espetáculo estarão protagonizando o especial mensal na Globo. "Pérola" é seu outro sucesso em cartaz há um ano, só que em SP.
Em entrevista por telefone, Rasi fala mais de seus projetos e comenta a ameaça de processo.
*
Folha - Você está fazendo neste momento "As Tias" para a TV?
Mauro Rasi - "As Tias do Mauro Rasi." Tem que ter Mauro Rasi porque existe muita tia por aí. Vai ser um especial mensal da Globo a partir de março de 97. São as tias que vêm de Bauru para o Rio, para infernizar o sobrinho. Elas não têm papas na língua, metem a colher em tudo.
Folha - Como é a história?
Rasi - Acontece no meu apartamento, no Rio. Elas têm medo de avião, então saem de Bauru de ônibus. E aí acontecem as aventuras. Elas discutem racismo, costumes, política, sexo, religião, futebol, tudo que é inconveniente.
Folha - Qual é o formato?
Rasi - Não vai ter externa. Só no primeiro programa, que são elas chegando de Bauru. Será como aqueles seriados americanos. Como a Lucille Ball, a Mary Tyler Moore, "A Feiticeira", "Jeannie É um Gênio", lembra? A intenção é mostrar um ambiente com ótimos atores e histórias boas.
Folha - Você já fez o roteiro?
Rasi - Já, e vamos gravar dois programas em janeiro.
Folha - Quem faz as tias?
Rasi - Berta Loran, Dirce Migliaccio, Carmen Verônica e Nair Belo. Maravilhosas, né?
Folha - Outro projeto é "Pérola", que será levada a outras capitais.
Rasi - É. "Pérola" é um sucesso avassalador. Ficou um ano em cartaz no Rio, um ano em SP, está saindo no Carnaval e depois começa uma turnê nacional. E ela estréia em Buenos Aires em abril. Lá, vai se chamar "La Perla".
Folha - Mas a peça tem personagens do interior de São Paulo. Como foi adaptado?
Rasi - Sabe que eles falaram que "Pérola" não é uma peça brasileira, e sim argentina? Bauru virou Junin, na província de Buenos Aires. A grande dificuldade é que lá não tem caipirinha e chopinho. Eles vão ter que tomar vinho, porque não tem essa coisa de paulista dizer: "Vamos tomar um 'chopes'?" A grande frase que resume a "Pérola" é: "Se o destino lhe der um limão, faça uma caipirinha". Essa frase não existe lá. A peça vai ficar aquela coisa argentina melodramática, que é o feeling deles.
O mesmo diretor está também interessado em levar para lá "A Dama do Cerrado", que ficaria com o título "La Dama de La Rosada". As situações são as mesmas, é só mudar as fofocas.
Folha - "A Dama do Cerrado" deve fazer turnê?
Rasi - Desde que estreou no Rio tem casa lotada, há um mês. E a gente está louco para ir a SP. Haverá surpresas na virada do ano. É um problema viajar com as minhas peças, porque não faço produção barata; é tudo grande.
Folha - Você produziu "A Dama do Cerrado"?
Rasi - Sim. E foi caro, daria para eu comprar um belo apartamento. Custou cerca de R$ 300 mil. É um investimento, naturalmente em parceria com a iniciativa privada. Folha - Essa peça é o motivo da polêmica de que seria co-autoria sua com Vicente Pereira.
Rasi - Em "A Dama do Cerrado" eu usei um tema de uma peça escrita há 17 anos em parceria com o Vicente Pereira, que chamava "À Direita do Presidente". Só que, 17 anos atrás, eu era um autor horroroso. Mas o argumento ficou esse tempo todo na minha cabeça, porque é muito bom. É a história de uma mulher que é abandonada por um político poderoso. Ela encontra com seu cabeleireiro e quer se vingar do poder, porque perdeu seus privilégios. Ela tinha uma mesa cativa no restaurante Piantella, do lado do Ulysses Guimarães, e perdeu! Eu usei o mesmo argumento, mas com uma visão à la Sidney Sheldon e Quentin Tarantino, misturado com "Priscila, A Rainha do Deserto", que é minha visão de Brasília: com muita pose, luxo; bem brega, luminoso.
Folha - E a acusação do plágio...
Rasi - Estou em dúvida se uso meu blazer Armani ou Valentino para ir às barras do tribunal. Todo mundo me conhece como autor. Eu não falo mais sobre isso.

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