São Paulo, quarta-feira, 4 de dezembro de 1996
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Museus ingleses podem perder doações

LUCIA MARTINS
DE LONDRES

Um dos maiores colecionadores de arte do Reino Unido está condicionando a doação de seu acervo -avaliado em US$ 42,5 milhões- à política cultural do governo.
Sir Denis Mahon, de 86 anos, que não tem parentes próximos, anunciou ontem a sua decisão -prevista em testamento- de dividir sua coleção de pinturas barrocas italianas do século 17 entre os maiores museus britânicos após a sua morte.
Há, no entanto, uma cláusula que permite que um representante de Mahon retire imediatamente as obras dos museus no caso de o governo britânico promover uma política de cortes de gastos na área cultural.
Bem da nação
Segundo as exigências do ex-administrador da National Gallery e militante das artes, o governo não pode levar adiante seu projeto de começar a cobrar entrada em museus e galerias (leia texto ao lado), vender qualquer uma das obras do acervo de Sir Denis ou "falhar em continuar preservando os compromissos para manter intactas as coleções públicas para o bem da nação".
A coleção de Sir Denis contém 76 pinturas, entre elas "A Agonia no Jardim", de Lodovico Carracci, "Violação da Europa", feita por Guido Reni, e "Eliah Alimentado pelos Corvos", realizada por Guercino. Há ainda quatro quadros de Dominichino e três de Crespi.
Fundo
Os trabalhos da coleção serão doados para o Fundo de Coleções de Arte, que é uma instituição independente.
O fundo será o responsável pela retirada das obras no caso de novas medidas "restritivas" do governo.
Para as galerias e museus do Reino Unido, serão doadas 63 das 76 obras da coleção.
Vinte e oito pinturas serão colocadas na National Gallery, em Londres, 12 no Museu Ashmolean, em Oxford, seis no Museu Fitzwilliam, em Cambridge, cinco no Museu de Birmingham, em Birmingham, três na Galeria Walker de Artes, em Liverpool, uma no Temple Newsam House, que fica em Leeds. Oito obras serão doadas à National Gallery, na Escócia. Nenhuma delas cobra ingressos atualmente.
Parceria
Na última segunda-feira, Sir Denis disse ao jornal inglês "The Independent" que "ainda acredita na parceria entre a iniciativa privada e pública, mas o princípio perde o valor se o governo não respeita o acordo".
Ontem, na National Gallery, em Londres, Sir Denis Mahon anunciou sua doação aos museus britânicos.
O diretor da galeria, Neil MacGregor, que recebeu a maioria das obras, afirmou que essa era uma das mais importantes já feitas à nação.

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