São Paulo, domingo, 8 de dezembro de 1996
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Ingestão prematura pode ter consequências desconhecidas

ALEXANDRA OZORIO DE ALMEIDA
DA REPORTAGEM LOCAL

A ingestão de hormônios sintéticos antes dos 50 anos desativa a produção natural dessas substâncias no organismo e pode provocar consequências desconhecidas.
Esta é a opinião de William Regelson, 71, oncologista e professor de medicina do Medical College of Virginia, nos Estados Unidos.
Regelson estuda tratamentos hormonais contra o envelhecimento desde 1980, e toma hormônios há 11 anos. Ele escreveu o livro"The Superhormone Promise", inédito no Brasil.
Apesar de defender o tratamento, Regelson vê com cautela o uso desenfreado do produto. Em entrevista exclusiva à Folha, o médico falou sobre a polêmica em torno da juventude e do envelhecimento.
(AOA)
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Folha - A partir de que idade as pessoas deveriam começar a tomar hormônios?
William Regelson - No final dos 40 anos, ou começo dos 50, período no qual as mulheres entram na menopausa e os homens apresentam um significativo declínio dos hormônios sexuais. Envelhecemos quando perdemos nossos hormônios reprodutivos. Animais e vegetais, depois que perdem a capacidade de reprodução da espécie, não são mais necessários. Biologicamente, é aí que as coisas começam a declinar. Então devemos trazer esses hormônios de volta a um nível em que a reprodução torna-se possível, como aos 20 anos.
Folha - Muitas pessoas estão tomando hormônios bem antes dos 40. Isso pode acarretar problemas?
Regelson - A produção de hormônios começa a decrescer a partir dos 20 anos, mas a queda é mínima. Só se acentua na passagem entre os 40 e 50 anos. Não acho que pessoas com seus 20 ou 30 anos, que ainda têm um nível alto de hormônios, devam tomá-los. É burro, porque você desativa a sua própria produção. Não sabemos quais podem ser as consequências. Se seu organismo já produz a quantidade adequada, não deve obter mais por outras forma. Mulheres que querem engravidar devem evitar desses produtos. Durante a gravidez, a mulher produz grande concentração de hormônios. Não sabemos o que uma alta dose pode fazer em um bebê não nascido.
Folha - O sr. vê problema no fato de hormônios serem vendidos sem prescrição médica?
Regelson - O problema é passar os hormônios pelo FDA (Food and Drug Administration). Pôr um medicamento aprovado pelo FDA no mercado custa U$ 300 milhões de dólares. Os hormônios não são patenteáveis porque a estrutura química do produto é de domínio público, então as indústrias de medicamentos não têm nenhum estímulo para passá-los pelo FDA.
Nos EUA, como você pode comprar hormônios em qualquer lugar, as pessoas os tomam como loucas, sem entender bem o que estão tomando. Idealmente, devem ser tomados sob orientação e regulação médica.
Folha - Existem contra-indicações para o seu uso?
Regelson - É ridículo dizer que há efeitos colaterais desconhecidos. A informação existe. O FDA não dá o aval porque ninguém está seguindo os procedimentos que eles determinam. Médicos relutam em prescrever hormônios ou qualquer remédio nos EUA que não tenha sido aprovado pelo FDA porque têm medo de serem processados. É apenas uma questão de saber a dose apropriada de cada um.
Você vê os estragos que a idade faz, e os hormônios podem fazer uma diferença. Trinta anos atrás, quando as mulheres atingiam a menopausa, que causa o ressecamento da pele, osteoporose, e queda de desempenho sexual, as pessoas simplesmente falavam que era consequência da idade, e que nada poderia ser feito. Agora sabemos que a substituição hormonal detém o envelhecimento e mantém o estado de juventude.
Folha - O sr. é oncologista. O que o levou a escrever esse livro?
Regelson - Estamos tentando estimular as pessoas a refletir sobre o assunto. Nos EUA, não podemos mais nos dar ao luxo de envelhecer. No ano 2030 teremos nos EUA 53 milhões de pessoas com mais de 70 anos. O custo do envelhecimento aqui é de dois terços de um trilhão de dólares por ano. São gastos anualmente U$ 430 milhões em pesquisas sobre envelhecimento. Em vacinas contra a raiva, são gastos U$ 1 bilhão. Gastamos mais prevenindo a raiva do que tratando a velhice. É loucura. Alguém tem de fazer algo a respeito. É por isso que resolvi escrever o livro.

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