São Paulo, domingo, 8 de dezembro de 1996
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Artur Falk ajudou a investigar fraudes

WILSON TOSTA
DA SUCURSAL DO RIO

Multado neste ano pelo Banco Central em US$ 270 milhões por supostas fraudes cambiais, o empresário Artur Falk participou, com a Polícia Federal e o Banco Central, em 1989, de investigações nos Estados Unidos e na Suíça para rastrear parte dos US$ 600 milhões desviados.
Falk integrou informalmente as diligências apesar da sua empresa, a corretora Interunion, ter trabalhado com cerca de 500 dos contratos suspeitos de fraude cambial praticada com guias fictícias de importação.
Feitas em Nova York e em Genebra, as investigações eram do conhecimento do então ministro da Justiça do governo Sarney, Saulo Ramos, a quem Falk fez um relato da viagem.
As informações constam da ação penal 93.0036588-6, que resultou, no início no ano, na condenação do empresário Sérgio de Paulo Pacheco, 50, a 28 anos e 8 meses de prisão.
Testemunha
Falk depôs no processo como testemunha de acusação. A continuação das investigações do Banco Central resultou na multa para Falk em 1996.
Pacheco está recorrendo da sentença em liberdade. Ele foi condenado por falsidade ideológica, falsificação de documento público, falsificação de documento particular, crime continuado, evasão de divisas por meio de operação de câmbio não-autorizada, manutenção ilegal de contas no exterior, concurso material (cometer, com os mesmos atos, dois ou mais crimes, idênticos ou diferentes) e formação de bando.
A sentença é do juiz Guilherme Calmon Nogueira da Gama, da 25ª Vara da Justiça Federal no Rio de Janeiro.
Segundo a denúncia dos procuradores da República Cosmo Ferreira e Alcides Martins, Pacheco, entre 1987 e 1989, simulou importações que nunca aconteceram, para comprar dólares no câmbio oficial e revendê-los no mercado paralelo, embolsando os lucros.
Na época, o ágio (diferença a mais) entre os dois, no período, chegava a 150%.
A denúncia dos procuradores apontou outros 14 acusados. O suposto esquema era operado por uma empresa-fantasma, a Higienol Indústria e Comércio, Importação e Exportação, que seria de Pacheco.
A Higienol forjava documentos alegando fazer importações de produtos químicos que seriam vendidos pela Sicpa, empresa de capital suíço.
Nessa época, Falk tinha no conselho administrativo da Interunion um representante da Sicpa no Brasil, Norbert Myuller.
Para realizar as transações, a Higienol usava a intermediação da corretora Interunion e os bancos Nacional de Crédito Cooperativo, Credireal, Nacional do Norte, Econômico, do Amazonas, Bamerindus e do Estado do Rio Grande do Sul.
Viagem a NY
Em 1989, Falk esteve em Nova York com representantes do BC e da PF, acompanhando averiguações no Bank of New England International. Era nesse banco que era depositado o dinheiro das fraudes.
Falk esteve também acompanhando as investigações no Trade Development Bank, em Genebra, na Suíça.
Lá, para onde o dinheiro das fraudes era mandado a partir de Nova York, ele esteve com o então diretor-geral da PF, Romeu Tuma.
O processo que condenou Pacheco concluiu que a Higienol falsificava toda a documentação necessária às importações, incluindo guias de importação.
Pacheco, acusado pelos procuradores de ser o verdadeiro dono da Higienol, negou, no processo, qualquer ligação com o suposto esquema. Ele afirmou ser empresário do ramo de exportação de café e não ter relacionamento com a Higienol ou com a Interunion.

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