São Paulo, domingo, 8 de dezembro de 1996
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Candinho une disciplina à gargalhada

JOÃO CARLOS ASSUMPÇÃO
DA REPORTAGEM LOCAL

Piadista, brincalhão, simples e disciplinador. José Cândido Sotto Mayor, o Candinho, técnico que levou a Portuguesa à sua melhor classificação na história dos Campeonatos Brasileiros, que tiveram início em 1971, define-se assim.
"Não perco a oportunidade de dar uma boa gargalhada", comenta. "Sou de fácil convivência, mas também sei me impor. Comigo, os jogadores não brincam."
Em entrevista à Folha, Candinho, que dirige a Portuguesa pela terceira vez, defende o atual regulamento do Campeonato Brasileiro, fala sobre a seleção e sua carreira de técnico de futebol.

*
Folha - Uma das controvérsias mais discutidas nos últimos dias é o regulamento do Brasileiro. Os quatro melhores colocados na primeira fase foram eliminados nas quartas-de-final. Os semifinalistas ficaram entre a quinta e a oitava posição. O regulamento é justo?
Candinho - É ótimo. O problema sabe qual é? A Portuguesa ter chegado entre os quatro e times como Palmeiras, Corinthians e São Paulo estarem fora.
O que a imprensa diz? Que o regulamento favorece os piores? Não é verdade. Quem fez a melhor campanha, além de jogar por dois empates, faz a segunda partida, a que decide, em casa.
Os que estão criticando o regulamento também dizem que o Cruzeiro, com mais pontos na primeira fase, deveria ser o campeão. Eles se esquecem de que não foi um torneio com jogos de ida e volta.
Na Europa, nos campeonatos de pontos corridos você joga em casa e fora contra o mesmo adversário.
Folha - Existe preconceito contra a Portuguesa?
Candinho - O Corinthians foi campeão em 90, mas não tinha a melhor campanha antes das quartas-de-final. Na época, dirigindo o Bahia, que tinha feito melhor campanha, eu caí fora. Não me lembro de a imprensa ter chiado tanto.
O que eu acho gozado, agora em 96, é que só começaram a reclamar do regulamento depois dos resultados das quartas-de-final.
Folha - Você vive hoje seu melhor momento como técnico?
Candinho - Não. Meu melhor momento foi em 93, com a Arábia Saudita. Nas eliminatórias para a Copa eram 29 países da Ásia e Oriente Médio e só duas vagas. Uma foi nossa.
Folha - Mas você saiu de lá brigado com a realeza árabe...
Candinho - Não foi bem assim, é que depois aumentam as coisas. No último jogo, não quis continuar. Não aceito interferências em meu trabalho. Mas classifiquei a seleção, que era o que eles queriam.
E não era fácil. Tratava-se de um país, não de um clube.
Folha - E seleção brasileira, você sonha em comandá-la algum dia?
Candinho - Seleção? Nunca.
Folha - E dirigir o Palmeiras?
Candinho - É uma lenda a meu respeito, estão sempre dizendo que sonho ser o técnico do Palmeiras. Para quem não sabe, já tive para ir para o Palmeiras e não aceitei.
Folha - Como você define seu estilo de trabalho?
Candinho - Conto piadas, sou brincalhão, tenho bom relacionamento com todos. Mas trabalho sério, sou respeitado pelos meus jogadores.
Não deixo que façam indisciplina. Não deixo ninguém reclamar de substituição. Se saiu, deve dar graças a Deus por ter entrado.
Folha - Antes de começar o campeonato, você havia dito que o time que fizesse 36 pontos se classificaria. Outros técnicos chegavam a falar em 39, 40 pontos. Não vai virar matemático?
Candinho - Já me sugeriram ir ao Fantástico (programa da TV Globo) fazer previsões. Com a vivência que tenho do futebol, sabia que o oitavo ficaria com 36 pontos. Talvez um a mais ou a menos.
Folha - Que conselho você daria para a imprensa esportiva?
Candinho - Que fale sobre fatos. O comentarista malandro é aquele que analisa o fato consumado, não fica dando palpites para cá, palpites para lá... Já vi muita gente queimando a boca.
Folha - Você não depende do futebol, tem atividades fora do ramo. Como estão os negócios?
Candinho - Só falo sobre futebol. Do resto, prefiro o silêncio. Para não atrair olho gordo.

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