São Paulo, domingo, 8 de dezembro de 1996
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Sonda lunar de 97 vai 'sentir' molécula de água

RONALDO ROGÉRIO DE FREITAS MOURÃO; VINICIUS TORRES FREIRE
ESPECIAL PARA A FOLHA E DA REPORTAGEM LOCAL

Em outubro do ano que vem os norte-americanos devem lançar uma sonda espacial para saber se o que a sonda Clementine detectou foi água ou só uma miragem.
A nova sonda que vai viajar sobre os pólos da Lua, a Lunar Prospector, vai levar equipamentos que podem descobrir que tipo de elemento químico existe na superfície lunar.
Os cientistas norte-americanos também vão poder saber se, além de ter água, o satélite da Terra pode ser uma reserva mineral explorável e se existem elementos que podem ser usados como combustíveis.
A Clementine não "viu" gelo na Lua. Ela funcionou como uma espécie de morcego: usou um radar para "sentir" o terreno lunar. Isto é, ela enviou ondas para o satélite terrestre, captou um eco e o enviou para a Terra para ser analisado.
Quando essas ondas foram rebatidas pela Lua, elas foram deformadas. Os cientistas compararam essas ondas deformadas a outras que já foram obtidas em outros lugares do Sistema Solar onde é sabido que existe gelo e concluíram que elas são semelhantes.
No entanto, partículas de poeira podem ter enganado os cientistas americanos. A Lunar Prospector vai poder ter evidências mais diretas da água: ela vai captar a radiação (partículas) invisível emitida pelos átomos de hidrogênio, elemento que faz parte da composição da água. A luz é um tipo de radiação visível.
Para detectar essas partículas, a sonda vai carregar um equipamento chamado espectrômetro de nêutrons. O aparelho também permite detectar a existência do elemento químico hélio, que pode vir a ser usado como um combustível pelos futuros colonizadores.
Outro aparelho da Lunar Prospector é o espectrômetro de raios gama, que pode detectar a presença de elementos químicos como o urânio, o tório e o potássio. Com as informações desse espectrômetro será possível determinar quais os recursos que podem ser explorados na Lua e qual a origem e a história do satélite terrestre.
Com os instrumentos usados pela Lunar Prospector, muito mais diretos, as conclusões serão mais seguras e confiáveis do que as da Clementine.
A sonda também vai estudar possíveis emanações de gases e medir os campos magnético e gravimétrico da Lua com dois aparelhos que trabalham em conjunto: um magnetômetro e um reflectômetro de elétrons. Esses aparelhos também podem fornecer informações sobre o interior profundo e do núcleo do satélite terrestre.
A viagem
A Lunar Prospector será lançada em 9 de outubro de 1997 do espaçoporto de Cabo Canaveral, Flórida (EUA). Depois de uma viagem de 110 horas, quando então estará na órbita do satélite, a sonda vai dar uma volta em torno da Lua a cada 118 minutos, a cerca de 100 km de altitude.
A missão, que custará cerca de US$ 63 milhões, deverá durar de um a três anos (o fim da missão é previsto para outubro de 1998).
Depois do vôo de cerca de 110 horas, durante o qual serão realizadas duas manobras de correção de trajetórias comandadas da Terra, a espaçonave irá alcançar as vizinhanças da Lua.
Uma vez em suas proximidades, a espaçonave realizará três diferentes inserções na órbita lunar: a primeira colocará a espaçonave em uma órbita elíptica (de forma ovalada) de seis horas. Isto é, a sonda vai dar uma volta em torno da Lua a cada seis horas.
Uma segunda, um dia mais tarde, colocará a nave em uma órbita elíptica de 160 minutos e, finalmente, 24 horas mais tarde, uma terceira e última inserção colocará a nave numa órbita circular de 118 minutos.
Nessa órbita de mapeamento -na qual a sonda vai circular a Lua passando sobre seus pólos, onde, acredita-se, está a água-, a uma altitude de 100 km do solo lunar, a espaçonave iniciará a missão de mapeamento, que deverá durar cerca de um ano.
Durante esse período, manobras orbitais de manutenção irão manter a espaçonave em sua própria órbita. Se, como se espera, ainda restar combustível no fim desse primeiro ano de missão em órbita circular, a Lunar Prospector irá continuar o mapeamento em uma órbita elíptica, cujo ponto mais baixo deverá atingir até 10 km acima da superfície lunar.
O espectrômetro de raios gama e nêutrons irá reenviar dados globais sobre a abundância de elementos, o que será usado para ajudar a compreender a evolução da crosta lunar nos altiplanos, a duração e extensão do vulcanismo basáltico e determinar os recursos lunares.
(Ronaldo Rogério de Freitas Mourão e Vinicius Torres Freire)

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