São Paulo, domingo, 8 de dezembro de 1996
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O mundo é das mulheres

MARCELO MANSFIELD
ESPECIAL PARA A FOLHA

Ultimamente, muitas assim chamadas "personalidades televisivas" vão às colunas e programas de entrevistas pregando que o lugar da mulher é na cozinha, que o homem é o senhor do lar, e que tudo -carreira, prestígio e dinheiro, bem como infinitas horas pedalando em bicicletas que não saem do lugar para perderem as gordurinhas que tanto desagradam seus senhores- vale a pena.
Pena que ninguém acredita nessa baboseira virginal. Assim como ninguém acredita que esses "senhores" modernos são tão parvos a ponto de não conseguirem espremer uma laranja, o que os impediria de morrer de fome. Se isso é verdade, homens como esses, incapazes sequer de se alimentar, são uma vergonha para seus colegas de sexo em plena véspera do século 21.
Essas infelizes e atrasadas mulheres, com cérebros deteriorados de forma irreversível por tinturas e cremes de beleza cujos nomes são impronunciáveis, conseguem com o poder de fogo de suas perninhas grossas jogar no ventilador o que suas antecessoras tão arduamente lutaram para conseguir: a igualdade entre homens e mulheres.
Se, em vez de se preocuparem com suas abdominais e o ponto certo da omelete de seus patrões, essas pessoinhas olhassem para trás, teriam uma surpresa.
A primeira delas seria Xênia Bier. Sem papas na língua, falava tudo que vinha na cabeça, jogando na cara das suas espectadoras coisas que elas realmente precisavam ouvir, além de contar com presenças como a do filósofo Hubert Rhoden e diversos psicanalistas que sacudiam a cabeça da mulherada.
Cidinha Campos comandava "Cidinha Livre", cujo nome já diz tudo. Não contente, foi para o palco e criou um espetáculo chamado "Homem Não Entra" e causou furor.
Lolita Rodrigues fez de tudo: cantou música espanhola, atuou em um monte de novelas e apresentou programas que ficaram na história, como o "Almoço com as Estrelas" e o "Clube dos Artistas". Quando Lolita não podia, Cacilda Lanuza assumia.
Cacilda também fazia jornada dupla, levando para a TV o "Cala a Boca Etelvina", grande sucesso de Dercy Gonçalves no cinema. E ninguém as comparou, pois cada um fez do seu jeito.
Meire Nogueira fazia programa infantil, de entrevista e ainda achava tempo para o "reclame".
Para terminar, não se pode esquecer de Hebe Camargo: cantora de samba ("Não me diga Adeus"), entrevistadora (de Joan Crawford ao dr. Christian Barnard, todos sentaram no seu sofá) e atriz (sua versão de "Romeu e Julieta" ao lado de Ronald Golias é impagável).
Essas mulheres trabalhavam de manhã à noite, sete dias por semana, jogando na cara do homem brasileiro uma coisa que há muito já estava no nosso subconsciente: O mundo é das mulheres.
Aliás, Hebe também apresentou esse programa.

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