São Paulo, segunda-feira, 9 de dezembro de 1996
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Erros fazem Havelange sair de cena

SÍLVIO LANCELLOTTI

SÍLVIO LANCELLOTTI; LUCIA MARTINS
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

O brasileiro João Havelange antecipou a sua saída da Fifa simplesmente porque perdeu o seu poder.
Na reunião de sábado, o presidente da Fifa, o brasileiro João Havelange, 80, anunciou sua saída da federação. Ele fica no cargo até a Copa do Mundo da França, em 1998. A partir de então, Havelange se afasta completamente do órgão máximo que regula o futebol internacional.
"O difícil não é chegar, mas saber a hora de sair", disse. O brasileiro está há 24 anos na Fifa, 22 deles como presidente.
Após deixar a entidade, Havelange pretende se dedicar a uma campanha para reerguer o Fluminense, que caiu para a segunda divisão. Ele é presidente de honra do time carioca.
Depois de mandar no futebol do mundo por 22 anos, cometeu os mesmos erros de seu antecessor, o britânico Stanley Rous.
Havelange se considerou eterno. E confiou nos traidores de plantão.
Já na quinta-feira, às vésperas da reunião do Executivo da entidade, o brasileiro havia insinuado a sua disposição de partir.
Com rara clareza, Havelange lastimou a insistência de seus confrades na divisão da Copa de 2002 entre Coréia do Sul e o Japão. Frase textual: "Onde ocorrerá o sorteio dos grupos: num navio, no mar que separa as duas nações? Ora..."
Na sexta, Havelange constatou a impossibilidade de evitar a estupidez. Graças aos oito votos da Europa, determinada a votar contra o brasileiro até num caso absurdo, o Executivo decidira mesmo mutilar a tradição e o bom senso.
"Querem cortar a Copa na metade", disse Havelange, na sua suíte do Hotel Rey Juan Carlos I, de Barcelona. "Pois eles farão isso sem mim."
Eleger o sucessor
Um sábio no drama e nos momentos de crise, o brasileiro, de todo modo, não vai abandonar o campo de batalha. Pretende fazer, sim, o seu sucessor.
Já existem dois candidatos óbvios: o sueco Lennart Johansson, presidente da Uefa, e o camaronês Issa Hayatou, presidente da Confederação Africana.
Correm por fora o norte-americano Alan Rothenberg, o francês Michel Platini e o alemão Franz Beckenbauer. Havelange, todavia, quer trabalhar pelo seu amigo Franco Carraro, próximo presidente da liga dos clubes da Itália.
Para oficializarem as suas candidaturas, os concorrentes necessitam das indicações de ao menos três federações nacionais, 60 dias antes das eleições. Nesse cenário, claro, até mesmo Ricardo Teixeira pode pleitear uma chance. Aliás, num impasse, até mesmo Havelange pode pleitear o seu retorno.

Colaborou Lucia Martins, enviada especial a Barcelona

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