São Paulo, segunda-feira, 9 de dezembro de 1996
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Cidade amanhece com sorrisos sob bigodões

ALBERTO HELENA JR.
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

Até os 20 minutos de jogo, a Lusa fez a bola rolar com fluência e senso.
Exibindo um autocontrole surpreendente, diante de um Mineirão pintado de alvinegro, chegou por duas ou três vezes à frente de Taffarel com perigo, a partir das arrancadas de Rodrigo, pela esquerda, e de Alex, pela direita.
Foi quando o Atlético pôs as duas mãos na cabeça: com fratura no dedinho do pé esquerdo, Fábio Augusto saiu. Ora, se com ele multiplicando-se no meio-campo a Portuguesa dominava o setor, imagine sem ele.
Pois foi sem ele, com Bruno em seu lugar, que o Atlético deu duas pontadas com Renaldo, e, a partir daí, equilibrou as coisas. Quem tratou de desequilibrar tudo foi o juiz, ao anotar um pênalti inexistente em Euller (o defensor luso, claramente, tropeçou e, na queda, tocou na perna do adversário).
Renaldo, pimba, gol.
Mas a Lusa voltou impávida dos vestiários. Fechou os espaços, tocou a bola e cavou o pênalti que Caio converteu no empate. O vira-vira dançou-se ao zumbido de Alex, disparando pela direita e fulminando Taffarel, cara a cara.
O Mineirão ficou mais negro do que alvi, e a goleada desenhou-se nos pés de Rodrigo para transformar-se numa angústia interminável, depois da expulsão de César e da cabeçada de Euller que restabeleceu o empate.
Hoje, a cidade amanheceu sob estranha epidemia: em cada esquina, um português desfalecido, com sintomas de enfarte agudo, e um largo sorriso sob os bigodões lustrosos.
*
Se eu fosse o presidente do Real Madrid, chamava o técnico Capello no canto e lhe entregava a chave de uma Ferrari vermelha e reluzente, pela vitória de 2 a 0.
Mas, fosse eu presidente do Barcelona, chamava o técnico inglês num canto, dava-lhe uma surra de toalha molhada e punha em suas mãos o bilhete azul.
Sim, porque o clássico de sábado foi decidido no banco, embora, claro, os lances fortuitos também contem.
Por exemplo: como explicar que Ronaldinho perca um gol daqueles? Ele, a bola e a rede vazia.
Quer dizer: o Barça até criou chances para empatar ou mesmo vencer; mas foi à galega, ou melhor, à inglesa, nunca à catalã.
Os espaços e a bola foram dominados pelo Real, desde os primeiros movimentos, como resultado de uma melhor distribuição tática em campo e, obviamente, pela melhor escolha dos jogadores destinados a cumprir esse estratagema.
Mesmo através da tela acanhada da TV dava para perceber que, enquanto o Barça se desconjuntava em três setores isolados, com temerários espaços entre eles, o Real se armava num sistema escalonado, da defesa ao ataque.
Se o trio de médios catalães jogava em linha, no meio-de-campo, preocupado apenas com a marcação e exilando a dupla Ronaldo-Giovanni lá na frente, com Figo aberto pela direita, os madrilenhos tinham em Redondo, Victor e Seedorf uma espiral que se juntava naturalmente a Raul, Mijatovic e Suker.
Assim, o jogo fluiu, os gols surgiram e o Real ficou com a taça invisível mas cobiçada dessa disputa que nunca termina.

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