São Paulo, quarta-feira, 11 de dezembro de 1996
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Grupo tenta enterrar Pareja como herói

WILLIAM FRANÇA

WILLIAM FRANÇA; LAURO VEIGA FILHO
ENVIADO ESPECIAL A GOIÂNIA

Policiais retiram bandeira brasileira colocada sobre o caixão, que desceu à cova ao som do Hino Nacional

LAURO VEIGA FILHO
Cinco policiais militares invadiram o velório do assaltante Leonardo Pareja, 22, e arrancaram uma bandeira do Brasil que cobria seu corpo, ontem, em Goiânia. Logo depois, o caixão baixou à sepultura ao som do Hino Nacional.
"Isso é apologia ao crime, está bem claro no Código Penal", afirmou o tenente Newton Castilho, do Batalhão de Choque da Polícia Militar de Goiás, ao retirar a bandeira, colocada por um representante da seção goiana do grupo Tortura Nunca Mais.
Castilho disse que tomou essa iniciativa "para preservar a ordem pública". Waldomiro Batista, do Tortura Nunca Mais, cobrou a devolução da bandeira -o que ocorreu depois do enterro- afirmando que ela tinha história.
"Já esteve na praça de Maio (na Argentina) e na assinatura da lei que prevê indenização para os desaparecidos políticos brasileiros. Não vou ficar sem ela."
Fãs
A intervenção da PM atrasou em alguns minutos o enterro, marcado para as 12h de ontem, no cemitério Parque Memorial de Goiânia.
No momento do enterro havia cerca de 400 pessoas no local. Milhares de pessoas passaram antes pelo velório, que durou 18 horas.
Muitas fãs levaram flores, fotos e pôsteres com a foto de Pareja para o velório. Outras deixavam bilhetes no caixão ou num livro de condolências, que recebeu mais de 500 mensagens do tipo "nós te amaremos sempre, Léo".
A confusão em torno do velório foi tanta que o corpo de Pareja quase teve de retornar ao IML (Instituto Médico Legal), durante a madrugada de ontem, para ser embalsamado (processo que impede a decomposição do cadáver).
Como o cemitério não providenciou cordões de isolamento, pessoas ficaram pegando no corpo do morto -inclusive apertando o seu peito e sua barriga. Essa compressão fez com que começassem a vazar líquidos por suas narinas.
Chamados às pressas, os técnicos recomendaram o afastamento do público para evitar maiores danos ao cadáver. O cemitério, que é particular, contratou vigilantes para tentar controlar a visitação.
Direitos humanos
A morte de Pareja foi o mote para que o Tortura Nunca Mais de Goiás marcasse com protestos o Dia Internacional de Direitos Humanos, comemorado ontem.
Antes do sepultamento, Waldomiro Batista fez discurso ao lado do caixão e, com a mãe de Pareja, Luzia Santos, colocou a bandeira do Brasil sobre o corpo do assaltante. Amigos e familiares carregavam cartazes com frases de protesto. As fãs aplaudiram.

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