São Paulo, quarta-feira, 11 de dezembro de 1996
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"Dona Anja" copia mal pornochanchada e Globo dos anos 70

MURILO GABRIELLI
ESPECIAL PARA A FOLHA

Não foram só o "Jornal do SBT", "Brava Gente" e outros menos concorridos que acabaram na última minirrevolução detonada na emissora de Silvio Santos.
Com a estréia de "Dona Anja", na última segunda, foi definitivamente para o espaço a "novela da família brasileira".
Se faltou qualidade, sobrou mulher pelada. E nem a cachoeira da Manchete foi necessária: qualquer tipo de proximidade com água -um chuveiro, uma lagoa ou a chuva vista pela janela- serve de desculpa para as atrizes se despirem no novo SBT.
As citações à Manchete não se esgotam por aí. Abundam as imagens aéreas de prados verdejantes, com a Lucélia Santos correndo no lugar das capivaras e pacas.
Alcançar o padrão dos diálogos e da decupagem de novelas mexicanas -que o SBT tem exibido com êxito maior que o de suas produções- também parece estar entre as principais preocupações de autores e diretores.
Ainda do México vem a luz filtrada e estourada -se bem que, nas cenas ambientadas na fazenda do coronel Quineu (Jonas Mello), ela ganhe um toque do comercial "Gente que Faz".
A principal referência estética, porém, são os anos 70, década em que é ambientada "Dona Anja". Não exatamente a vida no período, mas as principais fontes de seu imaginário visual: pornochanchadas, propaganda estatal do "Brasil Grande" e novelas da Globo.
Já na abertura percebe-se o truque. Ao som de "Não Existe Pecado ao Sul do Equador" na voz de Ney Matogrosso -que já servira para tema de "Pecado Rasgado", de 78-, desfilam silhuetas de mulheres à Juarez Machado.
O elenco feminino é encabeçado pela já citada Lucélia Santos e por Angelina Muniz. Só faltaram Elizângela e Djenane Machado.
Como o livro de Josué Guimarães -que serve de base para a trama- é ambientado no Rio Grande do Sul, não foi possível emular o sotaque nordestino de Jacarepaguá da Globo.
Vamos, então, de acento gaúcho. Quer dizer, sotaque propriamente dito não há. Sobra apenas um deslocado "tu" para todo lado.
O modo de apresentar as personagens também copia a tradicional fórmula da emissora carioca: o diálogo final de uma cena, que reúne os principais componentes de um núcleo, dá a deixa para que se passe para a cena, e núcleo, seguinte. Esforço inútil, considerando-se a pobreza habitual de personagens secundários no SBT.
As duas únicas novidades apresentadas no primeiro capítulo foram o recurso de exibi-lo sem intervalos comerciais e Vera Zimmermann, agora em papel de recatada balzaquiana.
Tudo parece mesmo ser mera desculpa para o nu. Pode ser que dê certo, se bem que a média de audiência do primeiro capítulo foi de nove pontos na Grande São Paulo (cerca de 720 mil telespectadores), a mais baixa desde que o SBT voltou a investir em novelas.

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