São Paulo, quarta-feira, 11 de dezembro de 1996
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Cinema cubano vive apagón, diz Guevara

AMIR LABAKI
ENVIADO ESPECIAL A HAVANA

A atual crise do cinema cubano "é um 'apagón' da produção", segundo Alfredo Guevara, o todo-poderoso presidente do Instituto Cubano de Artes e Indústria Cinematográficos (ICAIC) e também do festival de Havana.
"Apagón" foi a expressão pela qual ficaram conhecidas as longas faltas de energia elétrica que torturam Cuba no auge do chamado "período especial" pós-URSS.
Nenhum longa de ficção cubano está entre os 48 concorrentes da principal disputa.
O único longa do ano é uma animação, "Contra a Águia e o Leão", de Juan Padrón. A produção em filme se completa com seis curtas e dois médias-metragens.
"O Icaic, como produtor, não teve os recursos necessários no início do ano", reconheceu Guevara, em entrevista coletiva anteontem.
"A produção cinematográfica se autofinancia. Não quisemos terminar os filmes correndo, para preservar a qualidade e respeitar o ritmo dos cineastas. Ter ou não um longa cubano de ficção não altera a qualidade geral do festival."
O jovem realizador Arturo Sotto Diaz trabalha na finalização do único longa de ficção rodado em Cuba neste ano.
É uma co-produção com a França, que deve ser lançada no festival de Berlim ou de Cannes. Dois outros projetos têm chances de viabilização em curto prazo.
"Vivemos uma crise extrema em nosso país", assume Guevara. "Mas sou um otimista profissional. Estamos acumulando recursos, não para voltar aos números de ontem, mas para melhorar muito os de hoje."
Um sinal dos tempos é a vinheta que abre as sessões. Em quatro minutos, desfila uma longa lista de créditos, aberta pelo Icaic e incluindo até marca de cigarros.
A Folha perguntou a Guevara sobre o orçamento do evento e a fatia assumida pelo Icaic. "Não dou esses dados", respondeu o presidente do festival. "Sempre digo que falta dinheiro. É o único jeito para que entre mais.".
Guevara garantiu, contudo, que a nova realidade financeira em nada compromete a orientação do evento. "A autonomia é total. Seguimos a mesma política."

O crítico Amir Labaki está em Havana a convite da organização do festival.

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