São Paulo, sexta-feira, 13 de dezembro de 1996
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Conservadora aprova restauração de Warhol

CELSO FIORAVANTE
DA REPORTAGEM LOCAL

A Bienal Internacional de São Paulo embalou ontem, sob os olhos de Ellen Baxter, os trabalhos da sala especial dedicada ao artista plástico norte-americano Andy Warhol na 23ª edição do evento. Baxter é a responsável pelo departamento de conservação do museu Andy Warhol, em Pittsburgh (Pensilvânia, EUA).
Entre os trabalhos examinados estava a obra da série "Torsos" (1977), que mais gerou dores de cabeça à organização da Bienal nos dois meses do evento.
No dia 22 de novembro, uma sexta-feira, um visitante não identificado beijou o trabalho e deixou nele uma marca de batom.
O trabalho mostra um nu frontal masculino e um punho cerrado reproduzidos seis vezes. O beijo aconteceu na parte central do primeiro torso (da esquerda para a direita), sobre o pênis.
O trabalho de Baxter consistiu em examinar se os trabalhos estavam sendo enviados de maneira correta e nas mesmas condições que chegaram, em 13 de setembro.
Devido às suas grandes dimensões, 127 cm por 518 cm, o trabalho beijado, por exemplo, da mesma forma como chegou ao país, deve voltar aos EUA acondicionado em tubos e não preso no chassi (suporte) em que é exibido normalmente. Os trabalhos menores voltam embalados em plástico e acondicionados em caixotes de madeira.
Depois do exame, Ellen Baxter redigiu um laudo técnico sobre as condições dos trabalhos. O laudo do trabalho da série "Torsos" recebeu uma remissão ao laudo técnico realizado pela curadora Magali Sehn, responsável pela restauração da obra no Brasil, "um trabalho muito bem-feito", segundo Baxter.
Ainda faz parte do trabalho de Baxter acompanhar os trabalhos de Warhol no caminhão, durante o trajeto da Bienal até o aeroporto. A conservadora não pode abandoná-los nem sequer no terminal de carga do aeroporto, onde deve ficar até que os trabalhos estejam dentro do avião.
Segundo Baxter, acidentes com os trabalhos do artista já aconteceram, como marcas de gordura ou de sujeira deixadas por pessoas que tocam os trabalhos. Baxter trabalha com conservação de obras de arte há 17 anos. está no museu Andy Warhol há seis anos.
Quando soube do problema com Warhol no Brasil, o primeiro passo foi saber a qualidade do batom usado (óleos, ácidos e pigmentos que o compõem), a quantidade deixada na obra e a pressão aplicada no beijo.
A partir daí, contatou Tim Hunt, curador-chefe da Fundação Andy Warhol, que, por sua vez, mobilizou os especialistas que determinaram os solventes a serem utilizados. Segundo Baxter, o trabalho nem precisará de um exame de raio X. Nos EUA, ele passará apenas por um exame microscópico para obter o parecer final de Hunt.
A restauradora Sehn trabalhou com materiais fornecidos pelo MAC (Museu de Arte Contemporânea) e solventes do instituto de química da USP.
Andy Warhol (1928-1987) é o mais importante expoente da arte pop, movimento que se manifestou na década de 60 como uma crítica à comunicação de massa, por meio da reutilização e repetição de ícones da cultura e do consumo norte-americanos.
A 23ª edição da Bienal terminou no último domingo com um público de 398.879 pessoas (74.344 estudantes e professores da rede pública).

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